25.1.11

A simplicidade de ser


Muitas pessoas, coisas e acontecimentos aparecem no caminho para me mostrar que a vida pode ser simples. Mas simplesmente para mim não é. Mas pode ser... Será?



Essa guerrinha está tomando conta da minha mente. Na verdade, pode ser que esse tipo de questionamento tenha me acompanhado por um longo período... Talvez desde que eu tenha começado a pensar, porque me ocupo muito disso. Tanto que até cansa. Ai eu canto mentalmente. Sou daquelas pessoas que jamais seria adepta da meditação oriental. Na oriental, eu li, é preciso esvaziar a mente por completo. Na ocidental, você tem uma frase para mentalizar. Coisa assim, não sou estudiosa a respeito. O fato é que estou sempre pensando em algo. E quando não penso, sonho, porque isso (não pensar) só acontece dormindo mesmo.


Kuka me ligou. Ele mora em frente à praia e vive de uma loja/bar e provavelmente da pesca de quem pesca. Tem casa, cachorro, prancha e um amor. Para ele basta. Kuka gosta de surfar e de curtir a vida. Já viajou, já trabalhou de forma “regular”, já morou fora do país. “Conheci um casal de argentinos e passamos a noite bebendo. Amanheceu e eu abri a loja. O preço é a dor de cabeça, que já já passa”. O Kuka é um cuca fresca e a vida para ele é simples. Ele não só está feliz, como ele é feliz assim.


Eu amo a história do Kuka. Mas não me encaixaria nela, a não ser em uma espécie de sonho ufanista. Eu penso muito e pensamento tantos, tolos, tontos, não cabem em uma vida simples assim. Amiga da amiga pode contar o número de roupas que tem nas duas mãos e só. Porque ela simplesmente sabe que não é o que ela veste que a define, mas sim quem ela é. Franciscana? Carmelita descalça? Que nada: uma vida simples! (E eu não consigo ser assim nem em mala de viagem!)


Queria ser mais simples nas minhas relações. Aceitar quem não me quer, ligar quando tenho saudade, escrever as maiores besteiras sem medo de me arrepender depois. Fico esperando pela tal maturidade, que precisa mesmo de tempo para chegar, creio. Não acho que ela seja fruto de pensamentos mil, mas de experiências tantas que ela se forma sem que muitos até percebam. Outros simplesmente a negligenciam.


Eu não sou simples. Mas quando olho ao meu redor vejo que são tantos os que não são. E são tantos os piores nesse aspecto. Quem deixa marcas do passado viraram traumas não é simples. Quem não consegue controlar seu gênio não é simples. Quem se arde em ciúmes não é simples. Quem exige mais do que o outro pode dar não é simples. Viver é cheio de detalhes e a vida anda passando tão depressa, que os detalhes são sistematicamente negligenciados. Os detalhes não são simples e esses não têm mesmo de ser. 


Ter a simplicidade no olhar e no tratar é uma dádiva que deve ser louvada. É o que eu tento cultivar, a despeito dos meus tantos pequenos detalhes (e detalhes tão pequenos de uma relação a dois, com o outro). E apesar de pensar tanto, pesar tanto e calcular um monte de aspectos da vida (que poderiam simplesmente ser), eu percebo que na multiplicidade dessa sociedade criada é preciso uma dose de cada um de nós – os que pensam, os que pesam, os que piram e também os que simplesmente são. Simples.

4 comentários:

Bibi disse...

Não sei muito se existe essa coisa de caminho certo ou só tem estar certo num caminho. Não sei mesmo... E se a felicidade é algo que se persegue ou apenas (e não simplesmente) um estado de espírito :)

Saulo disse...

Se te conforta, é preciso que saiba que sem esforço e com bastante simplicidade você me faz feliz!! Como é bom saber-se amado através dos mais simples gestos!! Cada um de nós se ajusta na vida dentro dos limites dos interesses, caracteres. Isso é natural e normal. Também não sei se para nós haveria felicidade (eterna) na vida praiana como a do Kuka. Nem sei se minha felicidade estará nas distantes várzeas. Entenda, quero dizer que naturalmente você transborda felicidade a ponto de fazer os outros felizes. Todos que lhe conhecem são unânimes em conceituá-la como uma "bon vivant" (sim, urbana!). Você está no caminho certo! Me arrisco... "sempre esteve!"

Anônimo disse...

Vou copiar uma frase que li, acho que no facebook de mauro cesar.Não invente outro caminho ,invente outro modo de caminhar.Na praia, no campo ou numa casinha de sape vc me faz pensar, sentir e rir!
Eliza

Bibi disse...

Essa história de caminho é um lance bacana de se pensar. Talvez amadureça e escreva sobre essa ideia. Porque tudo o que foi levantado aqui nos comentário cabe. Impressionante!

Eu te faço rir, Eliza? Se pensar e sentir já é bom, imagina rir junto? Putz! Muito bom!