Podemos dizer que de tempos em tempos o ser humano passa por uma fase de reavaliação, o tal balanço. Pelo menos, deveria. Essa nova análise sobre os mesmos fatos pode ser desencadeada por uma série de fatores. Talvez a chegada dos 30 anos tenha me ajudado a entrar de cabeça nesse processo. E eu, que fugia da idade, hoje, gozo com prazer dos benefícios que começo a descobrir com a maturidade. Quais? Ter mais calma e tranqüilidade para lidar com os assuntos; Ter experiência e conhecimento suficientes para me safar de algumas situações; E, principalmente, mais que saber o que quero, é ter a condição de identificar aquilo que não quero para a minha vida e o que não me faz tão bem. Isso é bom pacas!
Junto a essa nova fase, vieram novas pessoas, novo trabalho, novas possibilidades. E, curiosamente, pude reavaliar aquilo que deixei para trás e que não foi bem uma opção minha, mas das circunstâncias. E foi assim que eu fui parar na Maracanã na final da Libertadores da América. Mesmo não sendo Tricolor. Você pode se perguntar: ah, então foi torcer contra? Nada disso. Creia. Eu fui de coração aberto, disposta a participar de uma noite histórica, ao lado de gente especial. Sabe o que aconteceu? e acabei me apaixonando, outra vez, pelo futebol.
Meu pai amava jogar bola. Parou cedo de praticar o esporte por questões de saúde, mas até hoje é vidrado em um jogo. Para ele, está valendo assistir até a partida de Togo X Gana. Meus irmãos eram peladeiros de ocasião. Eu, ao contrário, sempre amei os jogos do Flamengo e da Seleção. Lembro da primeira vez que estive no Maraca para torcer pelo Mengão. Depois disso, comecei a jogar futebol em uma escolinha perto de casa. Todas as meninas saíram e eu fiquei um tempo treinando com a turminha dente de leite. Perdeu a graça. Sempre que a mulherada entrava em campo, em quadra, ok, sempre que a turma de descontroladas se aglomerava para correr atrás da bola, lá estava eu! Tentando mostrar alguma técnica, apanhei muito! Mas era uma delícia! Chorei com jogos ao vivo, chorei com jogos pela TV. Quando entrei na faculdade, peguei logo uma eletiva. Sabe qual? Sociologia do Futebol. Uma matéria incrível, com um professor não menos maravilhoso: Mauricio Murad. Inesquecível.
Até que um dia... Eu me liguei a alguém que odiava futebol. Em nome do sentimento, deixei o futebol totalmente de lado. Claro que os dias de jogos decisivos do Flamengo ou da Seleção, a paixão pelo game falava mais alto. Um dia, fui fazer uma entrevista com o Dejan Petkovic, na época jogando justamente pelo Fluminense. Sem o menor pudor, “pedi” para ele voltar para o meu time. Disse que o gol que ele fez na final do Campeonato Carioca de 2001 contra o Vasco – aos 43 três minutos do segundo tempo, garantindo a taça para o time da Gávea – me fez chorar como um bezerro desmamado. Ele riu e eu voltei da sua casa com uma matéria sensacional.
O amor pelo cara passou; mas o amor pelo futebol voltou a entrar em campo de uma maneira surpreendente, justamente durante o jogo do histórico do Flu. Eu estava acompanhada por um torcedor fanático, o que tornou a experiência mais intensa. Fiquei lá, observando a manifestação da torcida, o amor à camisa, a entrada das bandeiras, o ato de jogar o pó-de-arroz em seus semelhantes. Perguntei algumas coisas e continuei com o olhar atento e curioso. Em campo, os jogadores do tricolor carioca fizeram uma bela partida. O cenário era de guerra e seus combatentes agiram conforme o enredo. A cada gol, eu morria de rir com a reação da torcida. Os homens ficam fora de si! Teve gente se jogando no chão, se ajoelhando para agradecer, pulando, caindo da cadeira, derramando bebida, correndo sem rumo. Acho curioso observar homens que nunca se viram antes, se abraçarem com uma intimidade fora do comum, vibrando, rindo. No último gol, eu tive as duas mãos beijadas por um torcedor que estava no nosso grupo, mas que eu nunca tinha visto na vida. Sinal de que não “Sou Tricolor de Coração”, como diz o hino do clube composto pelo genial Lamartine Babo, mas “Tenho Amor ao Tricolor”. Naquele exato momento me lembrei das aulas de Sociologia do Futebol do Mauricio Murad e tive vontade de voltar a estudar sobre isso - pelo menos aqui eu posso escrever sobre isso. As relações humanas me interessam demais. Achei uma declaração perfeita do antigo mestre:
“Apesar de o futebol ser um conjunto de técnicas desportivas, físicas e corporais, ele é muito mais uma arte que um esporte, por traduzir uma simbologia humana: a vida e a morte. O que é a vida humana, do ponto de vista filosófico? Uma síntese que resulta em movimentos conflitantes, entre o construir e o destruir, entre o estar e o desaparecer. O futebol traduz isso porque a vitória de um é a derrota do outro; o gol, êxtase da alegria de um lado, simboliza a tristeza do outro; o grito de uns é o silêncio de outros; o desespero do goleiro em face à alegria do atacante. O futebol é muito imprevisível, portanto, como a própria vida, que você programa hoje e não sabe o que vai acontecer amanhã. Então, no caso brasileiro, ele ajuda a traduzir a exclusão social, os preconceitos de classe, os preconceitos de raça, os preconceitos contra gênero, contra a mulher. Afinal, futebol ainda é um ambiente muito masculino, tradutor da sociedade, que também é. Costumo dizer que esse esporte tende a mostrar apenas o positivo – “futebol é democrático”, “futebol permite que o pobre e o negro, que o baixinho e o alto joguem”, e isso é bom. Mas futebol também é opressão, é exclusão, futebol é exploração de marketing. O futebol é o grande tema, pois, porque ele é o tradutor da vida coletiva; um tradutor avançado, porque traduz a vida coletiva pelas suas contradições. E, do ponto de vista da sociologia, é o “fato social total”. O que seria um fato social total? É aquele fenômeno que consegue sintetizar toda a vida social, por isso ele traduz a idéia de coletividade.”
Uma arte, mais que um esporte, porque traduz uma simbologia humana. O que é a vida humana, do ponto de vista filosófico? Uma síntese que resulta em movimentos conflitantes entre o estar e o desaparecer. O futebol é muito imprevisível, portanto, como a própria vida, que você programa hoje e não sabe o que vai acontecer amanhã. Nunca um trecho me fez tanto sentido.
Junto a essa nova fase, vieram novas pessoas, novo trabalho, novas possibilidades. E, curiosamente, pude reavaliar aquilo que deixei para trás e que não foi bem uma opção minha, mas das circunstâncias. E foi assim que eu fui parar na Maracanã na final da Libertadores da América. Mesmo não sendo Tricolor. Você pode se perguntar: ah, então foi torcer contra? Nada disso. Creia. Eu fui de coração aberto, disposta a participar de uma noite histórica, ao lado de gente especial. Sabe o que aconteceu? e acabei me apaixonando, outra vez, pelo futebol.
Meu pai amava jogar bola. Parou cedo de praticar o esporte por questões de saúde, mas até hoje é vidrado em um jogo. Para ele, está valendo assistir até a partida de Togo X Gana. Meus irmãos eram peladeiros de ocasião. Eu, ao contrário, sempre amei os jogos do Flamengo e da Seleção. Lembro da primeira vez que estive no Maraca para torcer pelo Mengão. Depois disso, comecei a jogar futebol em uma escolinha perto de casa. Todas as meninas saíram e eu fiquei um tempo treinando com a turminha dente de leite. Perdeu a graça. Sempre que a mulherada entrava em campo, em quadra, ok, sempre que a turma de descontroladas se aglomerava para correr atrás da bola, lá estava eu! Tentando mostrar alguma técnica, apanhei muito! Mas era uma delícia! Chorei com jogos ao vivo, chorei com jogos pela TV. Quando entrei na faculdade, peguei logo uma eletiva. Sabe qual? Sociologia do Futebol. Uma matéria incrível, com um professor não menos maravilhoso: Mauricio Murad. Inesquecível.
Até que um dia... Eu me liguei a alguém que odiava futebol. Em nome do sentimento, deixei o futebol totalmente de lado. Claro que os dias de jogos decisivos do Flamengo ou da Seleção, a paixão pelo game falava mais alto. Um dia, fui fazer uma entrevista com o Dejan Petkovic, na época jogando justamente pelo Fluminense. Sem o menor pudor, “pedi” para ele voltar para o meu time. Disse que o gol que ele fez na final do Campeonato Carioca de 2001 contra o Vasco – aos 43 três minutos do segundo tempo, garantindo a taça para o time da Gávea – me fez chorar como um bezerro desmamado. Ele riu e eu voltei da sua casa com uma matéria sensacional.
O amor pelo cara passou; mas o amor pelo futebol voltou a entrar em campo de uma maneira surpreendente, justamente durante o jogo do histórico do Flu. Eu estava acompanhada por um torcedor fanático, o que tornou a experiência mais intensa. Fiquei lá, observando a manifestação da torcida, o amor à camisa, a entrada das bandeiras, o ato de jogar o pó-de-arroz em seus semelhantes. Perguntei algumas coisas e continuei com o olhar atento e curioso. Em campo, os jogadores do tricolor carioca fizeram uma bela partida. O cenário era de guerra e seus combatentes agiram conforme o enredo. A cada gol, eu morria de rir com a reação da torcida. Os homens ficam fora de si! Teve gente se jogando no chão, se ajoelhando para agradecer, pulando, caindo da cadeira, derramando bebida, correndo sem rumo. Acho curioso observar homens que nunca se viram antes, se abraçarem com uma intimidade fora do comum, vibrando, rindo. No último gol, eu tive as duas mãos beijadas por um torcedor que estava no nosso grupo, mas que eu nunca tinha visto na vida. Sinal de que não “Sou Tricolor de Coração”, como diz o hino do clube composto pelo genial Lamartine Babo, mas “Tenho Amor ao Tricolor”. Naquele exato momento me lembrei das aulas de Sociologia do Futebol do Mauricio Murad e tive vontade de voltar a estudar sobre isso - pelo menos aqui eu posso escrever sobre isso. As relações humanas me interessam demais. Achei uma declaração perfeita do antigo mestre:
“Apesar de o futebol ser um conjunto de técnicas desportivas, físicas e corporais, ele é muito mais uma arte que um esporte, por traduzir uma simbologia humana: a vida e a morte. O que é a vida humana, do ponto de vista filosófico? Uma síntese que resulta em movimentos conflitantes, entre o construir e o destruir, entre o estar e o desaparecer. O futebol traduz isso porque a vitória de um é a derrota do outro; o gol, êxtase da alegria de um lado, simboliza a tristeza do outro; o grito de uns é o silêncio de outros; o desespero do goleiro em face à alegria do atacante. O futebol é muito imprevisível, portanto, como a própria vida, que você programa hoje e não sabe o que vai acontecer amanhã. Então, no caso brasileiro, ele ajuda a traduzir a exclusão social, os preconceitos de classe, os preconceitos de raça, os preconceitos contra gênero, contra a mulher. Afinal, futebol ainda é um ambiente muito masculino, tradutor da sociedade, que também é. Costumo dizer que esse esporte tende a mostrar apenas o positivo – “futebol é democrático”, “futebol permite que o pobre e o negro, que o baixinho e o alto joguem”, e isso é bom. Mas futebol também é opressão, é exclusão, futebol é exploração de marketing. O futebol é o grande tema, pois, porque ele é o tradutor da vida coletiva; um tradutor avançado, porque traduz a vida coletiva pelas suas contradições. E, do ponto de vista da sociologia, é o “fato social total”. O que seria um fato social total? É aquele fenômeno que consegue sintetizar toda a vida social, por isso ele traduz a idéia de coletividade.”
Uma arte, mais que um esporte, porque traduz uma simbologia humana. O que é a vida humana, do ponto de vista filosófico? Uma síntese que resulta em movimentos conflitantes entre o estar e o desaparecer. O futebol é muito imprevisível, portanto, como a própria vida, que você programa hoje e não sabe o que vai acontecer amanhã. Nunca um trecho me fez tanto sentido.
Programei uma noite incrível em parceria com o GClooney, mas vivi a história mais descabida dos últimos tempos, "algo entre o estar e o desaparecer", como teorizou Murad. A vida é mesmo imprevisível, o Flu perdeu nos pênaltis e eu perdi... O que foi mesmo que eu perdi? Ah, eu perdi a minha carona.
Não tem problema, arrumei outra em questão de minutos. E, ironia das ironias, fui para casa em um Gol.
Não tem problema, arrumei outra em questão de minutos. E, ironia das ironias, fui para casa em um Gol.
4 comentários:
Excelente texto biazinha!
Mas vamos combinar, depois de um jogo desses temos q agradecer a Deus por sermos flamenguistas, né não?! rsrs Pq ô jogo sofrido!! aff...
Oii, tanto tempo q não deixo um comentário, mas sempre venho aki tá?? hehehe Nenseeee!! rsrsrs
Bjo da Gorda! Uolll
Vc me fez lembrar a Cora Ronai que também fez a crônica dela sobre a ida ao jogo do fluminense.
eu sou muito suspeita para falar pq desde a adolescência, ir ao maracanão pra mim não é hobby, mas vício. aquele cantar com a torcida no pré-jogo, esbarrar com gente de toda cor, classe e religião, sofrer por algo tão irracional...ai como eu preciso dessas doses semanais.
só posso te dizer que me esgolelar na arquibancada gritando "Vai pra cima deles, Mengooo" é uma puta terapia..rss
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