19.10.09

Transitoriedade das Relações 3


No dia seguinte...

Meus pais levantaram às cinco da manhã. Tinha uma excursão com amigos da igreja. Foram passar o sábado em uma casa de praia com churrasco. Não os vi saindo.


Enquanto isso, no Rio de Janeiro estoura o caos da guerra por pontos de tráfico em favelas da zona norte da cidade. Fico sabendo que o tiroteio é tão intenso, que os bandidos chegaram a derrubar um helicóptero da polícia. Chegam as primeiras informações sobre o número de mortos e eu penso – com muita pena – que são pessoas-números, que vão apenas entrar para a estatística. Mais uma vez penso na temporalidade das circunstâncias. Talvez seja esse meu pensar que me impulsione tanto a querer viver as minhas histórias sem medo e com muito desejo e paixão: a temporalidade da nossa existência.


Passado o tumulto maior, penso nos meus pais. Eles certamente passariam por aquela região na volta para casa. Tento o celular de ambos e não consigo completar a ligação. Acalmo o meu coração. Amadurecer é também crer que todos estão entregues ao imponderável das circunstâncias (e eu, para o meu bem, acredito que é Deus quem governa esse imponderável).


Tarde da noite – para o relógio biológico dormideira dos meus pais – minha Mãe liga para o meu celular. É bom ouvir aquela voz. Eu estava no carro de reportagem, indo em direção ao trabalho (que já contei aqui). Minha Mãe diz que eles estão voltando para casa. Eu nem presto muita atenção. Estava tensa com a noite e o serviço que vinham pela frente. Minha Mãe notou isso na minha voz. Eu, no entanto, não percebi a dela.


Voltei para casa com o dia amanhecendo. Tudo parecia bem. Mas apenas no dia seguinte eu soube: nem tudo estivera bem.


No retorno do passeio, chegando de volta à igreja (ponto de partida da excursão), meu Pai desceu do ônibus, na chuva, para ajudar o motorista a fazer a manobra e entrar na rua, parcialmente bloqueada por carros mal estacionados. Acenou de frente para o motorista e se encaminhou para a parte traseira do coletivo, para visualizar a ré. Não deu tempo de chegar até lá. Na calçada mesmo, ele se segurou em um portão e seu corpo todo começou a tremer. Até que ele caiu ao chão.


De dentro do ônibus, duas senhoras perceberam a cena e começaram a gritar. Uns saem correndo para o lado de fora. Enquanto se prepara para sair, minha Mãe ainda consola as que gritam: “calma gente!”. “Ele está vivo!”, grita de volta o primeiro que chega até o meu Pai. Seus amigos, os mais queridos, o carregam pelo braço. O mais gordinho o apóia em seu peito. Papai, que começa a voltar a si, o reconhece e aloca a sua cabeça buscando uma posição de conforto e segurança (que só um amigo dá). A essa altura, minha Mãe tem o guarda-chuva aberto, protegendo o meu Pai da única maneira que ela pode. Um homem que passa pela rua em direção à sua casa é quem o leva para o hospital. Diagnóstico? Não deram. Estabilizaram a pressão e o mandaram de volta para casa.

6 comentários:

jose luis disse...

lipotimia

Bibi disse...

Que isso?

Bibi disse...

Saulo: Tá bem! Tá em casa e, como vc vai ler no texto abaixo, já está na rua saracoteando! Foi só um mau contato na fiação do homem de ferro!

Bibi disse...

Que susto! O Tio está bem? Me liga a qq hora se precisar, ok?! Bjus

joseluis disse...

queda pressão ou de açucar momentaneos por muito calor ou por stress ou por cansaço etc, etc etc...

Bibi disse...

ADORO quem tem conhecimento! Taí uma virtude sedutora!