14.3.08

DNA


Ser politicamente correto hoje em dia é um saco! Gostava mais do tempo em que falar das coisas com carinho e naturalidade não ofendiam ninguém. A nenhuma das partes, aliás. Hoje, há que se ter cuidado com os mínimos detalhes. Por exemplo, ia começar o post de hoje falando em como eu amo estar entre os velhinhos. Tenho medo de usar essa palavra e ofender a turma da Terceira Idade, que já não gosta desse termo e prefere ser tratada como Melhor Idade. Meu pai diz que tem DNA – Data de Nascimento Avançada. Adoro quando ele diz isso como se tirasse onda com a vida. Então, em homenagem ao homem que mais amo, vou ficar aplicar o termo DNA no meu texto. Com todo respeito aos demais, aviso!

Cresci entre os DNAs. Quando fui trabalhar com celebridade, invariavelmente todas as matérias “deles” caiam misteriosamente “no meu colo”. E eu nunca reclamava. Assim, acabei formando um círculo tão incrível, tão cheio de vida e histórias para contar, com tanta energia e entusiasmo, que fiquei com pena do que tem preconceito com a faixa etária. Eu adoro!

Essa semana voltei a ter contato com tanta gente boa! Pessoas que conseguiram passar bem pela vida, transformando seus cabelos brancos em status de experiência e a experiência na progressão da doçura do existir. Talvez, e aí é apenas talvez mesmo, só chegue carrancudo à essa etapa, quem não cultivou direito suas fases de desenvolvimento; que não viveu em liberdade, mas em libertinagem; que não experimentou, sem deixa-se dominar; quem não arriscou, aplicando uma boa dose de bom-senso e aventura. Quero falar de adoráveis, mas o texto já está tão grande...vamos logo a eles:

* Arnaldo Niskier

Não me lembro a primeira vez que estive com ele e dona Ruth, sua mulher. Mas lembro bem que as pessoas se referiam à ele como o professor e achei que aquele título lhe caía tão bem. Em nosso terceiro encontro ele olhou para mim e disse:

AN: Não precisa se apresentar, eu sei quem você é!

E assim, com a boa intimidade dos quase amigos, passamos a nos tratar em nossos rápidos encontros. E ele sabe quem sou até hoje. Descobri que ele é torcedor fanático do América. Não podia ser diferente, não acha? Muito estiloso!


* Nélida Piñon

Em 1996 ela tornou-se a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras. Conheci a Nélida pela televisão, no Programa do Jô e seu nome forte ficou registrado na minha memória. Você não fala Nélida Piñon impunemente! É um nome com cerimonial! Não é como dizer Maria Padilha, um cacho de bananas, depois da meia-noite ou João das couves.

A primeira vez que a vi pessoalmente fiquei meio hipnotizada. Lembro de ter pensado: "tão pequenininha e tão gigante em pensamentos e expressões". Gosto de duas frases dela:

“Todo mundo diz que sou uma mulher de grande imaginação, mas também adoro administrar a realidade, o concreto” e “Desde menina percebi que poderia ser usuária do saber de todo mundo, se me empenhasse para isso”.
Um dia, liguei para ela para marcar uma matéria que nunca pude fazer. Disse a ela:

Bibi: Mas a senhora tem que mostrar a casa toda, combinado?

Nélida: Eu mostro a sala, o escritório e a cozinha, mas o quarto não! Hoje em dias as pessoas perderam, como direi? A compostura...

Bibi: É, as pessoas perderam o recato.

Nélida: Ah, agora você me fez muito feliz! Recato, era essa a palavra que eu queria usar. Você me superou e olha que eu sou muito boa com as palavras!

Bibi: Que isso dona Nélida!? Assim você me deixa com vergonha!

Nélida: Não fique, estou bem impressionada!

Não preciso dizer que Recato virou meu sobrenome, não em sua essência, é claro, mas na sua sonoridade! Bibi Recato de Bicicleta.

* Luis Fernando Veríssimo

Sempre ouvi falar nele, mas conheci primeiro as letras de seu pai. Os livros do Érico eram adotados na minha escola. Um dia estive frente à frente com a lenda. Minha missão era entrevistá-lo durante o lançamento de seu livro. Fui me aproximando bem lentamente, assim como quem estuda a presa. Mas se a presa é um gigante da literatura, você se sente um mísero mosquitinho, tentando fazer barulho. A assessora me manda sentar ao lado dele, enquanto ele assinava os livros. Não lembro que lugar era aquele, mas não tinha muita nobreza, a mesa era uma daquelas de plástico. O seu publico parecia em êxtase, sem muito falar, só a olhar.

Sentar ao lado dele era uma tortura para mim! Não porque eu não quisesse, mas porque queria muito e me faltavam as palavras. Ele me olhou rapidamente e desviou o olhar. Comecei as perguntas e vi que ele tinha muita dificuldade para falar, não para se expressar. Num dado momento, alguém da fila o elogia e ele parece querer sumir dali. Percebi tudo: o gênio era tímido! Muito tímido! Estava mais nervoso que eu! Lembro de rir e comentar com ele.

Bibi: Você parece incomodado de estar aqui, né? De receber tantos elogios...

LFV: Sou muito tímido. Se pudesse, só escreveria, pulava essa parte de estar frente à frente com o público. Fico encabulado.

Não é fofo?

Da segunda vez que o encontrei, fui abordá-lo com mais coragem e mostrando uma intimidade que a gente não tinha. E esse ar deu confiança a ele e a mim. Lembro de ter perguntado: "o que te falta?". E ele: "um neto". Foi em 2004.

Essa semana descobri que ele finalmente está para realizar seu antigo sonho! Em abril LFV será avô de uma menina! Viva o vovô!

2 comentários:

Bia Bomfim disse...

Cavem a cova, por eu já estou no meio da queda, dura, preta e coberta de lantejoulas!!! Só existe uma pessoa entre mim e o LFV!!!!!!!!!!! Puf, morri!

Saulo disse...

Fantástico como você consegue fazer estas "intocáveis" celebridades parecerem tão possíveis!!!...
Combinamos assim: Da próxima vez que você for entrevistar um destes "monstros"... leva uma foto minha e diz que eu existo, tá?!... rsrsrsrs
Bjussssss