22.1.09

Deleite



Há algum tempo, rolou no De Vez em Quando uma enquete para saber, entre quatro nomes, qual foi o maior gênio: Eisnten, Freud, Shakespeare ou Van Gogh. Eu não conhecia o blog [mais uma para a lista dos que tenho que espiar], mas o Val fez um texto com esse mote, lançando a questão. Eu, com dedos em brasa, quase elaborei uma tese para comentar o assunto. E ainda acho que não fui profunda o suficiente. Paciência... Cada dia agrega à vida um novo conhecimento ou um olhar diferente, um ponto de vista amplo. Ou restrito [tudo bem, não quero te enlouquecer, rs].

O Val escolheu Van Gogh. Os participantes da votação também. Eu não. Mas nesse aspecto, não me atrevo a fazer juízo de valor/escolha. Comungo de percepções, muito mais que conhecimento teórico. E tenho os meus argumentos. Eis o que escrevi:

A minha análise seria muito mais afetiva, que de importância para a evolução das artes e ciências na concepção da sociedade/mundo moderno. Ou para a elucidação da dúvida existencial de alguém. O curioso é que Gogh seria o último da minha lista dos preferidos. Muito provavelmente se eu mesma elaborasse uma lista, ele não faria parte dos finalistas. Tudo muito pessoal. A questão é que talvez por não tê-lo “visitado” nas últimas férias como o Valmir fez [a exposição do pintor em Viena] e ter praticamente tocado no produto de sua genialidade; ou por desconhecer suas tintas e saber mais sobre a sua agonia [o fato dele ter cortado uma orelha. Fato, aliás, que é um dos indícios que revelam se tratar de um caso de bipolaridade]; talvez por amar as letras acima de qualquer outra forma de expressão. Just maybe.

Então, em honroso quarto lugar viria Gogh, o Van Van. Em seguida estaria Sigmund Freud, mas com certa dor na alma. Sou absolutamente louca pelo trabalho de "tentar" entender a alma humana. O estudo dessa matéria tão instável, mutante e volúvel que existe dentro de cada um de nós, coletiva e individualmente, me encanta, me comove, me inspira, me tira do lugar comum, me eleva. E ele só está na terceira posição, porque tenho uma curiosidade [quase sexual, como muito provavelmente elucubraria Freud] pelos dois restantes.

Existe algum tipo de balança que possa medir a magnitude do trabalho de Einsten e Shakespeare - dois pólos opositores? Justamente por não saber sequer fazer conta de somar sem utilizar os dedos das mãos é que encaro Einsten como “genius maximus”. Uma criaturinha totalmente à frente de seu tempo, pronta para nos revelar um novo tempo. E sem profecias ou bola de cristal. Talvez muitas das suas idéias tenham sido aperfeiçoadas e/ou ultrapassada com o evoluir dos tempos, mas é assombroso alguém ter a capacidade de teorizar o imponderável até então. Eu amo trazer o enredo da Teoria da Relatividade para um contexto mais lírico, poético, onírico. Eu também me aproximo de sua figura por um fato distante dos números: o cara não estava nem ai para os que pensavam ser ele um louco e sabia rir de si mesmo. Quem não se lembra da antológica foto com a língua de fora, que revela bastante irreverência? Isso muito me agrada [dizem que ele detestava ser fotografado]. Será que Mick Jagger se inspirou no velhinho doidão?

Eu sei, eu sei... Minha primeira colocação é bastante óbvia, não é? Muitos diriam que Shakespeare foi influenciado por uma arte que transcendia o tempo: o teatro Grego. Creio que de certa forma, todo mundo é inspirado em alguma coisa que já existe. A diferença é que William, poeta e dramaturgo inglês, conseguiu fazer com que a sua arte encantasse geração após geração, se perpetuando como obra iconográfica/referencial até os dias de hoje. Suas obras permaneceram ao longo do tempo e ele se tornou um dos escritores mais revisitados e contextualizados da história. Ou seja, não é apenas a sua obra purista, mas o fôlego que ela ganha a cada nova montagem, roupagem, repaginação. A história da história. E as histórias que são inspiradas descarada e propositadamente na obra do autor [Meu Deus, em quantas histórias você reconhece Romeu e Julieta?].

Nós, escritores contemporâneos, talvez raramente consigamos fazer uma criação que seja totalmente inédita ou que não tenha referência, ou ainda seja liberta de qualquer fonte de inspiração primária. Claro, poesias são únicas porque nascem da alma! Entretanto, provavelmente alguém já deve ter tratado sobre tema anteriormente. Assim, a mente já deve ter sido contaminada pelas escritas que nos tocaram de forma diferente. Geniais são aqueles que conseguem fazer sua arte sobreviver a pelo menos uma geração após si. É transformar o particular em popular e continuar encantando. Você imagina como essa tarefa é árdua em um país onde muitos sofrem para comprar leite?! A escolha entre leite e deleite parece inequívoca. E ainda assim há os que transpõem a dificuldade para consumir arte. É o caso do catador de lixo que montou uma biblioteca com o "produto" de seu "sustento".

Shakespeare fala de amor e também discorre sobre tragédia. Aprendi que dor e prazer são faces da mesma moeda. Aquela que a gente negocia
sempre.

7 comentários:

Unknown disse...

Bibi, meu amor, só queria lembrar que Romeu e Julieta é uma cópia descarada de Tristão e Isolda,lenda celta do século IX, que virou livro, filme, ópera. Tristão e Isolda é a pedra fundamental de tudo o que já foi escrito sobre amores impossíveis.
Ou seja: mesmo com toda sua genialidade Shakespeare também é um plagiador.

Beijinhos

Bibi disse...

Jorge,
Obrigada pela informação, totalmente relevante e até elucidativa para mim. Mas, comparativamente, o número de cópias e remasterizações e atualizações e inspirações em R&J é bem maior que T&I. Como eu disse, nem o bardo inglês escapa do plágio, uma vez que ele se inspirava no teatro grego. A diferença, talvez, esteja na popularidade. E quando eu falei de R&J [sei que isso não estava implícito] pensei naquele filme do Di Cáprio... Não que fosse bom, mas tem certas coisas que me impressionam nesse sentido.
Amei o comentário. You make me happy!

Anônimo disse...

Não, bebê.Você não entendeu.

Para o público mediano a cópia é de Romeu e Julieta. Mas se Romeu e Julieta é uma cópia, obviamente o plágio é de Tristão e Isolda. Infelizmente, não tirando o valor de Shakespeare, a mídia em cima do bardo e a absoluta falta de informação, faz com que esse tipo de coisa aconteça.

E na verdade não é só Shakespeare que se inspirou no teatro grego, mas toda e qualquer pessoa que já escreveu qualquer coisa, já que não só o teatro, mas todas as artes nasceram na Grécia.

Mas ok. É que sou tão apaixonado por Tristão e Isolda que esse assunto me tira do sério.

Beijos melados e saudosos de seu eterno fã. SMACK

Bibi disse...

Jorge, foi exatamente isso que disse, rs. Entendi sim! o bardo inglês plagiou, só que a cópia ficou mais famosa que o original [por falta de informação ou coisa que o valha]. Aconteceu ontem, hoje e talvez sempre aconteça!
Tem gente que acha que, em termos literários, tudo já foi dito. Será? Talvez sim.
Sua paixão é legítima e a minha por vc tb!

Anônimo disse...

Amigos,
A discussão está muito boa. Eu nunca tenho muita certeza de nada, faço muitas perguntas existenciais. De crânio humano na mão, é meu símbolo de que as dúvidas permanecem muito além da vida do homem. Ninguém há de soluciná-las. Ninguém há de saber quem é o maior gênio. Ninguém há de responder se William realmente plagiou a peça vizinha do norte. Mas, creio eu, é fato que o grande barato de Romeu e Julieta nem é, propriamente, o enredo dos amantes impossíveis. E sim os cinco atos entrelaçados, os ganchos que prendem o público de um ao outro, a tensão que faz o cara ficar na beirinha da poltrona! E a capacidade de falar, igualmente, para os nobres nos camarotes de cima e para a ralé, de pé, em frente ao palco. Shakespeare era um habilidoso, de talento raro para escrever peças. E foi assim com grande parte de seus trabalhos, não apenas com R&J. Ode a William! É o maior dos draumaturgos. É? Ou não é?

Saulo disse...

Para que discutir se Tristão veio antes de Romeu ou Julieta imitou a pobre Isolda? Esqueçam... Einsten é top e ponto!

Bibi disse...

Porque só as histórias de amor provocam debates tão acalorados! Se o Val tivesse comentado aqui, estaria defendendo o Van Van... Vai entender!?