2.2.09

Eu Mesma

Foto feita por Roberta Ladeira

Os homens gostam de dizer: "É impossível tentar entender os desejos de uma mulher; é impossível saber o que elas querem e o que passa em suas mentes". Chegou o tempo de nós, mulheres, devolvermos a mesma sentença à ala masculina: "É impossível compreender o que se passa no coração de um homem. É mais fácil saber seus pensamentos; quando minimamente revelados".

O homem atual ou está ligado às rígidas tradições de um tempo passado e se vê extremamente acuado por esse modelo do "novo homem" que se impõe [e que as mulheres buscam a cada dia com mais vigor]. Ou está tentando entender como exercer essa sua nova masculinidade [e seus efeitos], frente à transformação radical, inequívoca e desenfreada que as mulheres impuseram desde a queima de seus sutiãs em praça pública [adoro essa passagem, embora seu desenrolar tenha tomado um rumo um tanto radical até a tentativa do equilíbrio]. O homem, que continua caçador, se vê extremamente fragilizado diante desse novo mundo desconhecido que se desenrola e ainda não ganhou sua forma final e "segura".

É extremamente complicado se ver envolta a esse contexto em que ambos os sexos se perdem dentro de suas estruturas socio-emocionais. Um "praticamente" trocando de lado com outro, provando o menu quase que de surpresa [ou até melhor, se vendo obrigado a compreender as questões mais íntimas ligadas ao sexo oposto, a ponto de quase experimentar o seu lugar], mas lutando contra os seus instintos básicos, que os puxam para o lado contrário. Falo de sentimentos e não no contexto da sexualidade ou de direitos adquiridos [embora o ganho de espaços e de novos direitos seja também a mola propulsora de toda essa incerteza. Mas isso é papo para os teóricos e entendidos no assunto. Eu só falo do que observo e do que sinto].

A "coisa toda" vem de fora para dentro [sem a devida "ruminação que o contrário ofereceria], invade e é preciso quebrar barreiras emocionais há muito perpetuadas com elementos ainda pouco experimentados. Há os que conseguem ter sensibilidade suficiente para se colocar no lugar de seu oposto imediato/complemetar. Não é impossível. Vejo claramente esse exemplo no meu amigo Franitos, que abre a porta do carro para a sua noiva [sem ela pedir e faz o mesmo comigo, um sem número de vezes], mas sabe defendê-la nas mais diversas situações. Ele sabe se posicionar. Ele tem mais amigas mulheres que amigos homens e já foi um "grande predador", arrancando suspiros molhados da mulherada com seus músculos definidos, careca ao vento e doces palavras. Até achar a pessoa que o completasse. Sabe falar de seus sentimentos e inseguranças, mas honra as calças que veste, assumindo o perfil de protetor. A Bia Bug, noiva dele, sempre me diz: "Eu não tolero homem frouxo, que foge de seus próprios sentimentos. Sou independente e tenho a minha opinião própria, mas sempre desejei ter ao meu lado alguém que "use as calças" e honre a sua posição".

Estou absurdamente frustrada por conviver com quem não vê que por baixo da minha capa de mulher independente, inteligente e supostamente cheia de atitude; convive em harmonia um ser frágil; uma menina assustada e desprotegida, que tem sede de carinho e de um braço forte - e de espaço para ser, pensar, ter opinião. Grandes coisas não me atingem tanto quanto pequenos gestos impensados, falta de gentileza. Graças a Deus tenho amigos que me apóiam muito mais do que imagino e mereço.

Não posso me dobrar à falta de gentileza e sensibilidade que parece imperar nos dias atuais [nas questões do coração e nas escalas mais altas do trato humano-social]. É cada um por si e salve-se quem puder. A minha chefe cobra uma postura mais agressiva da minha parte. E ela tem razão! Mas como posso mostrar que sensibilidade não é fraqueza? E que fragilidade é apenas a manifestação da minha alma feminina, que se escondeu por tanto tempo atrás de uma profissional que teve que aprender, sozinha e na marra, a se defender no mundo do business e até no mundo interno? Eu tive que "me criar" sem esperar por grande explicações e fui dura comigo mesma em várias situações, agindo no instinto, para sobreviver à mesmice que se perpetuava e que não me fazia sentido. Escondi de mim a tal "fragilidade" que supunha ser fraqueza, mas que agora grita por seu tempo perdido. Como fazer os que amo e os que venha a amar, compreender que nas questões do coração, eu sou essa menina frágil e desprotegida, que se revela e se esconde, com medo de ser quem é? Dias tão difíceis... Não quero consolo, gente, quero compreender o que acontece no meu tempo, no meu mundo è à minha volta. Que TUDO passa, eu sei perfeitamente. Mas já teorizei demais e pratiquei de menos internamente, com as devidas explicações e entendimento [chega de varrer as incompreensões para o "bueiro" emocional]. Eu agradeço por tudo que tenho e tudo que sou [de verdade, porque sei que há muitas pessoas em situações piores. Mas a minha responsabilidade comigo mesma é me cuidar e progredir diante da vida]; mas tem horas que é bem difícil ser eu mesma...

15 comentários:

Anne Katheryne disse...

É amiga acho que no geral o homem e a mulher ainda não se entenderam com as capas que agora vestem. Não perceberam que por trás delas não houve tanta mudança assim. Ainda somos a fêmea e o macho de sempre. Mas ainda bem que o nosso Deus nunca nos abandona né?! E nos dá o que precisamos na hora certa. Pena que só nessa hora a gente perceba isso! Bjões

Bibi disse...

E quando nessa hora você fica ainda mais confusa? Que loucura!

Sah. disse...

q linda essa minha amigaa!

Saulo disse...

Nossa! Estes foi um dos textos mais profundos que já li! Pude vislumbrar o colo dom seu útero! Quanto estrogênio e adrenalina em tão sinceras palavras!! Putz, minha experiência se aproxima e se distancia da sua. Nossas vidas são tão interligadas que quando leio este texto, posso sentir seu coração bater mais lento e seu peito perder um puco do fôlego. Queria te abraçar agora... só isso!! Prometo dar o máximo de mim para te acompanhar nesse viscoso "processo". Desejo que jamais desita desta busca por si mesma! Eu tenho encontrado algumas respostas sobre mim e vc sabe disso! Eu aboli os conflitos com o sexo oposto... resolvido: somos bons amigos e basta! rsrsrs
Bjusssssssssssss com muito amor e dengo!

Saulo disse...

Ahh preciso dizer que adorei aquele nosso papo no meu quarto na última vez que esteve aqui!!! Senti que estávamos tão próximos!! Quero MUITOS mais!...

Bibi disse...

Saulo, existe uma frase que diz: para se estar junto, não é preciso estar próximo, mas do lado de dentro! Vc está do lado de dentro atemporalmente!

Bê Soares disse...

voce é maravilhosa seeeeeempre, Bi!
Jesus, não me canso de ler essa coisa aqui.
ganhou um visitante frequente. [sem o trema, agora, né? hahaha]

que o Senhor te abençoe hoje e sempre.
amo muito você;

e.. homens? eu tento ser o mais 'antigo' possível. acho que eu nasci na época errada, mas ainda temos uma salvação para o cavalheirismo :D

Bê Soares disse...

não tenho palavras bonitas, não sou criativo o bastante.. mas, com todo o meu coração, só queria dizer: haja o que houver, tô aqui e pode contar comigo (:

Bibi disse...

Não há fórmula mágica! A vida de um escritor é colocar os sentimentos no papel na tentativa de organizar "a casa". Transponho sentimentos coletivos para dores individuais. Seria mais fácil se todos nós, ao menos, tentássemos ser transparente e valentes frente ao desconhecido.

Anônimo disse...

olha eu acho que hoje em dia (desculpe se entendir bem o seu texto) acho que a maiora dos homens tem medo da mulher independente por si mesma, porque na maioria das vezes nós (homens) não conseguimos enfrentar nem o sexo igual imagine o oposto. E quando em uma situação onde na maioria das vezes este sexo oposto (a mulher) se destaca hum!!!. Tenho 03 amigas que são competentes, dinâmicas e muito bonitas mas não encontram um partido pois a maioria foge por medo de tudo isso e esquece que elas são mulheres e são frageis atrás da casca dura como você acredito. Quando falo de casca dura não é uma coisa feia e intransponivel mas uma pequena pele que com jeito se solta. Agora o problema é o jeito que muitos de nos (homens) não tem ou não quer ter.
obs. Sou ciclista do blog e também na pratica gosto muito de um passeio de bicicleta pedalo 90km por semana.

Anônimo disse...

na verdade em que pesem todas as transformacoes sociais sexuais comportamentais
so' o amor nao muda de comportamento
na paixao o homem ainda corteja e a mulher que e se deixa cortejar, o homem quando ama ansioso telefona toda hora e a mulher ansiosa atende sem se entediar e o sexo ainda vem de um leve tocar de peles
isso e' imbativel e nao ha' mudanca que venca

Anônimo disse...

Pois é, Bibi, eu já encontrei um homem que disse pra uma amiga em comum que eu não servia pra ele pq estava "no mesmo patamar" que ele. Ele me achava inteligente e independente como ele, muito dona do meu nariz. Juro, palavras dele! Ou seja, como eu não ia ficar cheirando o rabinho dele (desculpe o palavreado chulo, amiga), não servia pra ser mulher dele. POSSO COM ISSO?? E, graças a Deus, hoje estou com Franitos. HOMEM FROUXO JAMAIS!! E tenho dito!

Anônimo disse...

Aliás, escrevi sobre isso um tempo atrás: http://macaquinhosnosotao.zip.net/arch2007-06-24_2007-06-30.html
Beijos!

Camila Ciberi disse...

Acho que ainda está por vir a era em que os homens entenderão as mulheres por completo. Não é porque temos uma opinião sobre um assunto em mum dia, que essa opinião será a mesma no dia seguinte. Claro que a confusão também é nossa, mas paciência, somos assim. Ninguém mandou a doida queimar o sutiã...

Anônimo disse...

Acho que estamos vivendo uma nova era, na verdade indo para essa nova era. É um passar de eras, uma entressafra, estamos nos adequando a novos signos de comportamento. Cada um a uma maneira, frente a esse desenfreado liberalismo social, a essa exacerbada vigilância do século 21, de nós com nós mesmos, a essa valorização discutível da beleza, do que vem de fora, do que parecemos ser e não no que realmente somos... Tudo isso características que nos fazem pensar o que ‘vamos ser’, e esquecemos ‘o que somos’.
Não creio que seja um problema masculino, mas humano, da humanidade. E talvez seja normal, se encararmos que estamos nessa dita fase de transição. O que nos aguarda o futuro?