Gente de Frases

Sexta-feira conheci Jean-Luc. Um francês que me ensinou que para falar seu nome é preciso fazer biquinho. Almoçamos em um restaurante de culinária francesa, mas com ingredientes brasileiros. Falávamos inglês. Acho muito intrigante perceber os sotaques através de uma língua que não é a minha, mas que faz parte da minha formação.

Jean-Luc conversava em francês com a nossa anfitriã. Nunca estive na França (e quero crer que poderei visitar Paris apaixonada). O bárbaro foi que eu compreendi todo o papo sem tradução ou tecla sap. Saulo já havia me contado que passou uma temporada da França e que no fim dos poucos dias já era capaz de compreender a conversação. Gosto de fazer biquinho. Francês me parece uma linguagem de alma feminina. Assim como estou certa de que o italiano tem uma pegada máscula em sua expressão. Gosto do som de ambas. Mas ainda sou encantada pelo inglês americano, principalmente por ser uma língua que me coloca em contato com o mundo inteiro e seus sotaques.

A mesa era de seis pessoas. Quando cheguei, todos já estavam. Sentada ao lado do anfitrião, logo me apresentei e comecei a conversar. Por isso as pessoas pensam que eu não sou tímida. Mas não é bem assim. Buscar a comunicação me tira daquele silêncio constrangedor. Uma vez iniciado o papo, os verdadeiros não-tímidos encontram todos os assuntos do mundo para colocar em pauta. E assim eu saio do centro e dou lugar a comentários de ocasião. Quando o clima volta a esfriar e o convidado já não é mais o centro das atenções, ele se volta para mim. Falamos falamos, falamos como dois não-tão-desconhecidos.

Ao final, um aperto de mão firme e ele me puxa para dois beijinhos entusiasmados. Ato carioca com o biquinho francês. Eu muda em um sorriso. É ele quem dá o tom da despedida: "A gente tem o mundo inteiro para se encontrar e a vida toda também". Eu concordo com a cabeça, ainda sorrindo. Ele completa: "mas se um dia você for à França, me procura. Aqui está o meu cartão".

Bela frase, não acham?

Era só o aquecimento.

Foi uma sexta-feira de frases intrigantes.

Vejam só:

“A gente se casa com quem não nos rejeita” – Essa foi dita por um companheiro que não tem nada de ruim em seu setlist... Um homem inteligentíssimo, culto, refinado, discreto. O mesmo que diz: “Eu tenho em mim uma dor que nunca cessa” e “Isso vai ser bom para a minha baixa alta-estima". FIGURA :)

Rodrigo, advogado, gato e meu amigo há 16 anos, é dono de boas frases. A de sexta-feira foi em um bate-papo:

- Falando em restaurante, vou ao mercado comprar cheiro verde
- Hahahhahaha. Adorei isso! Eu jamais diria que preciso sair para comprar cheiro verde...
- Sou o protótipo do homem moderno: jogo bola, falo dos meus sentimentos e compro cheiro verde!

Essa vai para o hall da frases:

"Sou o protótipo do homem moderno: jogo bola, falo dos meus sentimentos e compro cheiro verde!"

Andando pela redação, ouço a seguinte pérola para justificar uma coisa que parece, mas não é:

"Punheta é ilusão: você pensa que está trepando, mas está só com o pau na mão”

Teve também uma dita por mim ao longo do dia:

"A chuva lá fora alimentando a minha tristeza. Como ver o mundo de dentro para fora sem a ajuda de lentes de aumento interno? Doença grave, doutor... Doença grave."

Teve, por fim, uma que eu li e que achei fofa pela brincadeira inteligente. Preconceitos a parte, vou ficar com a questão da cor e nunca a da raça, que não tem nada a ver com a história ou a comparação:

"Se o amor é branco
E o ódio é preto
Então o que sinto por você é xadrezinho"