29.12.08

Casos de Família - O Tapete





"O destino pode mudar. Nossa natureza jamais."
Schopenhauer


Casos de Família
Eu tenho andando observando as loucuras particulares da minha família. Cada qual tem a sua esquisitice de estimação, guarda seus valores no baú do tempo, mesmo sem ter o menor valor, conserva hábitos ou cria alguns novos, sem nem analisar se parece cabível aos demais [tanto membros da família, quanto seres humanos].

Quero ver se consigo criar aqui uma série Casos de Família. Assim, sempre que lembrar ou ocorrer algum evento nesse sentido, a gente adiciona a notícia nesse item/critério.

Vamos começar?

Eu estou na mesma casa há 16 anos.

Esse tempo, somado ao tempo dos meus irmãos mais velhos quando eram pequenos, chegaremos ao total de anos que o tapete verde durou lá em casa.

Anos e anos suportando o peso dos pés da família, as titicas trazidas da rua, as corridas de bota ortopédica marrom [espécie de método de tortura medieval usada em crianças até a metade dos Anos 80, se não me engano, com a indicação de correção da curva dos pés ou qualquer coisa que o valha], as minhas danças em frente à TV, a cadeira de balanço da minha Mãe, meus irmãos ouvindo rádio e todos os etecéteras que se possa imaginar.

E lá se vão mais de 20/30 anos com o mesmo verdão a cobrir o solo do meu latifúndio. Você há de concordar comigo, que os artigos fabricados no passado pareciam feitos para durar muito mais tempo. Hoje, a vida útil parece cortada pela metade.
Dito isto, vamos aos fatos. Há alguns meses a minha mãe comprou um novo tapete para enfeitar a minha sala. Pisante de qualidade, fofura compatível. Bom alinhamento com o quadrante do ambiente. Cor: vermelho, mas com uns estampados bacanas. Combinação adequada para os padrões estéticos do lugar.

O que a minha Mãe fez? Esticou o garboso no chão... Feito para deixar transparecer todo o seu resplendor e dar novo colorido a casa. Mas não foi só isso. Assim que ela começou a notar o movimento em cima do tapete novo, ela tratou de enrolar metade do bichão que ficava bem na passagem da cozinha para o resto da casa. Ou seja: agora, as cadeiras da mesa de jantar servem de “guarda” para que ninguém tropece naquele pedaço de canudo que foi enrolado e ficou bem no meio da passagem.


A ironia maior é que quando chega visita e a tal é anunciada pelo interfone, alguém tem que se lembrar de correr para desenrolar o pedaço de tapete, para deixá-lo exposto e cumprindo o seu verdadeiro papel nesse mundo.

Agora pensa comigo: minha Mãe já tem mais de 70. Se esse tapete, usado de forma correta, durar mais uns 20 anos; ela já estará com mais de 90, certo? Nem deve estar mais ligando para o tal do tapete. Para quê tanto zelo com um pedaço de pano fofo feito para amaciar o nosso trotar?! Pior que quando ele é desenrolado, fica com aquela marquinha...

Realmente não faz o menor sentido! Mas vai você, tentar explicar isso para a coroa?!
“Existem razões que a própria razão desconhece”.


7 comentários:

Anônimo disse...

Não sou das frequentadoras mais assiduas, mas isso não quer dizer que não ame esse espaço tao rico, onde é sempre um prazer fazer uma visitinha.
Sempre dou um jeito de aparecer, mesmo que beba em goladas seguidas e esbaforidas os "conteúdos" aqui compartilhados. O que, na verdade é melhor, quando apreciado em pequenos goles. Mas o que importa é que não deixo de beber da fonte da Bia, que sei de onde vem a inspiração.
Te admiro muito
Não pare nunca...

Anônimo disse...

Um 2009 repleto de saúde, felicidade e amores. Ah, com viagens intercaladas em cada um desses bons momentos. Ao menos uma comigo, né! Nova Zelândia nos espera.
Adorei te ter como leitora e ser seu leitor, agora assíduo. Continuamos juntos no ano que já vem vindo.
bjos

Anônimo disse...

hahahah

Eu sempre achei muito louco isso de comprar uma coisa para nao usar!
Qual o sentido de ter uma coisa se vc não usa???
Mas acontece em TODAS as familias.
Um dia, provavelmente, vc vai fazer o mesmo!! hahahah

beijao!

Ana Martins disse...

Tolerância, Bibi... muita tolerância... é realmente non-sense, mas...a lei da boa convivência lhe chama.
E espero que vc nunca faça o mesmo! O Lucas aí em cima falou que provavelmente vc o fará... no, please! Não impeça o objeto de cumprir sua função plenamente, rsrsrs

Unknown disse...

Adorei esse relato. Me fez pensar em tanta coisa: loucuras familiares, cismas da idade, coisas úteis e coisas inúteis, e nossa capacidade de transformá-las umas nas outras.

Saulo disse...

Será que minha vaca terá este triste fim?!

Bibi disse...

Saulo, a vaca vai para o brejo!