Gosto de comparar a vida a uma colcha de retalhos. Gosto muito, aliás, porque é a associação mais simples e sincera que me ocorre. Já a citei várias vezes aqui [e certamente outras virão]. Gosto de pensar que as belezas da vida podem ser costuradas a nossa história momento a momento. Basta que estejamos atentos à vida e não tenhamos medo de viver suas surpresas.
Existe um filme que me toca bastante: Stepmom (1998) com a Susan Sarandon e Julia Roberts. Nele, a personagem de Julia é uma fotógrafa, que tem a bela idéia de fazer uma colcha de retalhos com os melhores momentos da ex-mulher de seu atual marido junto aos filhos. A ex-rival, Susan, descobre que está morrendo de câncer; mas esse ato simples, profundamente tocante e cheio de generosidade acaba transformando duas famílias partidas em uma só comunhão. Os retalhos dessa colcha são realmente os momentos felizes vividos por aquele núcleo.
Aprecio demais costurar eventos da vida, não só para contar a minha história, como também para torná-la significativa. Uma vez li uma frase que dizia:
“Morro e revivo nos pequeninos instantâneos da Graça. Sempre a espera de um milagre...”
Adotei essa máxima, fazendo desses pequeninos instantâneos da Graça, as peças exatas para a colcha de retalhos que estou construindo; bordando e recortando ao sabor das lições e dos acontecimentos.
Assim sendo, quando elaborei uma lista de coisas observadas em apenas um dia pelo bairro do novo trabalho [post antigo], pensei na frase de Charles Chaplin, que diz:
“A vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe.”
E assim foi. Logo no segundo dia de trabalho, a minha chefe pediu, por e-mail, para que eu falasse mais baixo! Essa pequena Italianinha que vos escreve estava dando urros com a pessoa do outro lado da linha, para que o trabalho acontecesse da maneira perfeita. Eu falo alto e gesticulo apenas quando me empolgo. Essa mesma pessoa, me ligou em seguida e perguntou se eu estava triste [hehehehe]. O poder da voz. Foi essa mesma pessoa que me disse que quando a gente não conhece quem está do outro lado, a voz simpática faz toda a diferença. E foi assim, com um elogio, que fiz amizade com a Ed, uma paulistana gente boa e que confiou no meu taco só pela voz... E se deu bem! RS
Caminhando pela rua principal, logo depois do almoço, vejo uma cena intrigante. Uma mulher vem na direção contrária a minha, com a blusa TODA molhada só na região do peito [específicamente]. Aquilo me intrigou profundamente. Acompanho com o olhar a passagem da jovem, sem entender como alguém pode suar só no peito [no caso, no peitão]. Duas marcas de água exclusivamente na região pontiaguda, protuberante e alimentar da mulher. A Lucy, que caminhava comigo, esclareceu a minha momentânea ausência de sinapse: “Bibi, ela está vindo da praia e o vestido está molhado só na região do biquíni”. Uia! Como não pensei nisso, meu caro Watson!? É elementar, minha humilde habitação está a uma montanha de distância do mar... Não conheço os hábitos e esquisitices de quem é rato de praia.
Camelô de bairro bohemian chic tem seus atrativos em escala superior. Um Rolex está valendo R$ 300,00 [no pau!]. O “falsi”, porque o real está valendo algo em torno de 10, 12 mil reais [menos ou mais, dependendo do modelo]. Um amigo meu ganhou um de aniversário, há pouco tempo. A pessoa que o presenteou achou que ele não havia se animado o bastante com o mimo. Ele diz: “Ah, Rolex eu já tenho outros, já vi, já sei o que é... Gostei mesmo foi da colagem que a minha massagista fez para mim de presente”. Pois é, essa é uma camada telúrica da sociedade da qual não me atrevo nem a pesquisar, porque é um mundo legítimo sim, mas totalmente desconhecidoe de polegar opositor [para quem assistiu Ilha das Flores]. Algo que paira num paralelo entre Lost e a Ilha da Fantasia, na escala da minha mais humilde vivência suburbaninha, com toque de charme, elegância e sofisticação patrocinados pelos tempos de Caras e as coberturas das festas do high-socity. E não há demérito em nenhum dos dois lados dessa moeda. Só um abismo.
E depois de perceber que eu não poderia ter nem o Rolex by Feirinha, recolhi a minha dignidade, a fim de voltar para casa. De ônibus. Antes, passei na padaria e comprei biscoito goiabinha, alegria de pobre. Lembrei tanto de Jorge Brasil, que tem asco desse biscoito. Uma vez ele pegou um pacote inteiro e socou tanto o bicho sobre sua mesa, que só sobrou farelo para contar história. Cada um no seu quadrado, certo?
Logo após o lanche, peguei um livrinho para ler. Vi que o cara que sentava-se no banco ao lado [do outro lado do corredor] estava atracado em um jornal. O balanço e a leitura me fizeram dormir em questão de minutos. Quando acordei, no meio do caminho, vi que o camarada do jornal dormia de pescoço pendurado, jornal espalhado pelo chão, bem como eu deveria estar há poucos minutos. E fiquei matutando: será que, assim como a minha mãe, eu durmo de boca aberta? Ser flagrada nessa situação é fim de carreira, meu bem! Pior que isso, só usar o ombro do companheiro ao lado como travesseiro. Ato [falho] que também faz parte do meu repertório “morfeniano”.
Agora vou dormir. Essa escrita já me deu olheiras.
Beijos e até a próxima!
5 comentários:
No meu humilde trajeto de duas horas até em casa, canso de dormir (até sonho, menina!). No começo, também ficava bolada em me verem de boca aberta, com pescoço caindo, sei lá. Mas agora, como sei que 100% do ônibus faz o mesmo que eu, relaxei! Bjs
fofa!
o bob tbm dorme facinho! hehehe
Quando tô em local público e cochilo - ônibus, trem, avião, van... tb me pego perguntando o que pensaram. Será que estava de boca aberta? Viram minhas obturações? Eu ronquei? E o que Chaplin, das tragédias quando nos aproximamos pertíssimo das pessoas, é um pouco isso. Somos tão iguais que assusta. Mas quando passamos de ônibus e vemos tudo distante, nos colocamos em ouro patamar, acima ou abaixo.
Alguém pelamordeDiós me conta o segredinho pra dormir assim facinho... rsrsrs
Não durmo nem na minha cama, que dirá em ônibus! ahhhhhhhhh!
Bwood disse...
Bia, eu poderia jurar que a tal mulher estava amamentando... e o molhado era leite... já passei por essa na rua e tive que comprar uma blusa, acredita?
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