30.11.08

A Mulher e o Buquê da Vê



Caramba! Que dia atípico eu tive hoje! Estou com uma sensação de que fiz muita coisa e ao mesmo tempo não fiz nada! Bem, não devo ter realizado nada de muito produtivo, daí a sensação. Nem coloquei o nariz na rua, o que é vergonhoso para um dia de sábado.

O mais engraçado é que a coruja já piou e a carruagem já virou abóbora e a gata borralheira aqui está com tudo! Uma agitação que só você vendo! Amanhã tenho que levantar cedo e sofro só de pensar! Porque nesse exato momento a cama não me chama, meu bem.

Fiz uma nova descoberta e estou super empolgada. É besteira, mas ainda não posso contar! Estou elaborando um projeto muito pessoal, que me estimula demais! Adoro quando posso usar a criatividade, aliada a outros elementos que me encantam, seduzem e empolgam. Poderia virar a noite em cima do que já comecei, mas tenho noção de que amanhã não posso ser o mau-humor em pessoa: almoço de família! Tias velhas e varizentas que te observam nos mínimos detalhes e lançam aquele olhar de orgulho, emoldurado pelo sorriso dentadura [um patrocínio de corega tabs].

Amanhã vou cheirar laquê e ainda vou gostar disso! Adoro uma reunião da terceira idade [e não é piada, gosto mesmo! Trabalhei em um lugar que o editor só me passava matéria dos veteranos. Depois, passei a descarcar os pepinos que chegavam por telefone também. Aquela doçura...].

Quanto ao projeto, estou surfando na crista da onda do prazer de fazer algo criativo [embora não tenha nada de inédito ou novo ou de vanguarda. A novidade é para mim]. Puro deleite de um fim de noite na santa paz, sem barulho lá em baixo e sem meus pais disputando para ver quem chama mais um ao outro [ou a mim].

Segunda-feira eu começo no trabalho novo! Vai valer um post exclusivo de lá [se der tempo]. Hoje, deixo vocês com um texto que a Vevê postou no Casa da Vó Merinda. Amei o que essa menina escreveu. Sim, é uma menina que até bem pouco tempo me perguntava se devia fazer Direito ou Jornalismo. Tire você mesmo as suas conclusões:


"Não era apenas uma senhora caminhando pela rua; era uma senhora caminhando pela rua com um buquê. Verdade seja dita, estava de branco, mas de certo não era noiva, pois não se vestia como tal. Estava cansada, percebia-se pelos olhos, mas ouso afirmar que não se tratava de tristeza. Simplesmente cansaço, na sua definição mais simples, afinal, já era noite. Talvez, fisicamente, estivesse ali, mas seus olhos mostravam que estava longe; seguia seu caminho como se ligada a algo que a fizesse chegar aonde deveria, sem ao menos perceber o percurso que fazia. Seguia seu trajeto de maneira automática. Se vivêssemos em outro século, no futuro, poderia jurar que se tratava de algum tipo de ser mecânico, cujos passos são perfeitamente calculados do local de origem, ao de destino. Mas não se tratava disso. Era apenas uma simples mulher com um buquê na mão. Não andava, não corria. Caminhava a passos lentos.

Chamou minha atenção não pelo andar, não pelos olhos, mas pelo buquê. Rosas brancas e vermelhas estavam ali, embrulhadas nas mãos daquela mulher, mas ninguém notava. Seriam aquelas flores fruto de um marido apaixonado? De um filho arrependido? Quem sabe, até mesmo, de um admirador? Era um arranjo muito vistoso. Bem elaborado com detalhes singelos, como um desses auto-adesivos fornecidos pela floricultura. Não consegui identificar o que dizia mas, de certo, tratava-se de alguma felicitação. A forma como pressionava o embrulho sobre seu corpo tornava visível o quão importante era. As cores das flores refletiam no asfalto. Qualquer um que a observasse por dois segundos, perceberia que olhava o chão com um leve sorriso nos lábios. Porém o reflexo não provinha das luzes alaranjadas da rua sobre sua sombra, mas sim dos pensamentos aos quais ela recorria naquele instante: as flores.

O sinal ordenou e meu carro andou. Poderia ter permanecido parada ali por mais alguns longos e curtos instantes, imaginando como não teria sido o dia da jovem senhora até chegar naquele instante, onde sua realidade e minha imaginação se cruzaram. Não consegui concluir nenhuma história, pois muitas seriam possíveis no contexto observado. Contudo, uma conclusão obtive: se fui eu o agente observador da situação, ela, com toda certeza, foi o transformador. Por mais que ela nunca venha a saber, seus passos, seus olhos e seu leve sorriso geraram, em mim, uma pontinha de alegria. Em uma cidade onde sirenes, gritos e tiros são percebidos pelo medo que provocam, cenas como a observada por mim são completamente ignoradas. Pensei então que não só eu, mas todos nós precisávamos de um algo mais. No lugar de armas, um buquê. No lugar de tiros, uma pétala. No lugar do medo, esperança."

2 comentários:

V. Raner disse...

A melhor sensação de uma mãe deve ser quando seu filho faz alguma coisa boa pros outros. Eu me sinto assim agora!

Te vi de longe hoje, depois você sumiu! Droga!

Anônimo disse...

Perguntei à Vê se ela queria ficar rica. Ela disse que não. Eu disse: então, faça jornalismo sim. Apesar dos pesares, não há sensação melhor do que fazer o que se sabe. E fazer bem. Lindo o texto!!!