26.11.08

Vida que Segue


Depois da morte da minha amiga, fiquei meio sem chão... Aquela sensação de que tudo parecia caminhar numa ordem – mesmo que essa ordem, ironicamente, representasse o caos na minha vidinha conturbada – e em um estalo, você é pego de surpresa com uma mudança abrupta e repentina de rota. Sem aviso. Mas no fim das contas, a nossa história é mesmo cheia de revés. Não há quem controle tempo ou temperatura debaixo dos céus. Também percebo que os sentimentos são rebeldes e, portanto, avessos a qualquer tentativa de “domesticação”, “mapeamento” ou “planilha matemática”.

Entre lágrimas, soluços e lembranças eu segui em frente. Afinal, era justamente o fim de semana que passaria ao lado dos meus amigos na serra. Uma espécie de encontro anual, do qual eu nunca pude participar, porque há pelo menos três anos eu sempre fico resfriada nessa mesma época. É isso mesmo, gripão com data marcada. Febre, tosse e melequinhas me liberaram para a aventura em 2008. E como é vida que segue, resolvi juntar os caquinhos e partir.

Ao chegar ao ponto de encontro, com uma cara de sovaco mal lavado, a BetaGorda vem correndo me receber. E solta uma frase que me faz rir: “Amiga, a maldição foi quebrada! Você vai viajar com a gente e em perfeito estado de saúde!”. Pois é, fisicamente estava ótima e não consigo pensar em melhor lugar para se estar em tempos de xororô, que ao lado dos amigos. Gente que a gente ama e é amado em retribuição [Delícia!].

A viagem mostrou-se uma aventura desde o começo. Nosso motorista era definitivamente primo do Mr. Magoo [aquele velhinho, baixo, careca e cegueta, que se envolve nas maiores confusões, justamente por pouco enxergar]. Logo na saída, a demonstração foi explícita: ele conseguiu subir o meio-fio dos Arcos da Lapa, ao fazer a curva. Por pouco não leva para a serra um pedaço do monumento “boêmio” carioca [Fez o mesmo no canteiro da entrada da cidade de destino]. Inacreditável. Em seguida, foi um tal de acelera, freia em cima do quebra-mola, rola o “levanta e desce” e acelera outra vez, fazendo o nosso estômago sacudir mais que bunda de passista de escola de samba. Entre verdes e amarelos, todos chegaram sem maiores problemas.

O único acidente [ou incidente], claro, aconteceu comigo. Fui ao banheiro do busão. Peguei na alavanca para fazer o pêndulo e acertar a mira na privada. Xixi no vaso, borda seca. Papel, tudo indo super bem. Aquele cheiro de desinfetante de pardieiro me alertando que a tarefa deveria ser feita em menor tempo possível... Fui lavar a mão naquela biquinha mínima. Aciono o botão de leve e nada. Aperto com mais vontade e a água ao invés de sair pela torneira, se voltou contra mim através do botão de acionamento. Pressão e chuveirinho, com água sendo espalhada pelos quatro cantos do cubículo! Não dava para me proteger com a mão. Saí do banheiro com um empurrão na porta, toda molhada e rindo descontroladamente. Ninguém entendeu a cena. A pessoa sai do banheiro mais chulé que existe, de sobretudo e botas pretas, toda respingada! Ainda bem que não sou adepta da chapinha e progressivas... Só assim o estrago seria maior!

Foi um fim de semana chuvoso, confesso. Porém, o que poderia ter estragado a trip, nos uniu ainda mais. A pousada era em estilo colonial e tinha uma sala com vários ambientes. Como foi bom reunir a galera ali! Todo mundo meio misturado, mas cada um fazendo o que mais tinha vontade. Uns namoravam no sofá [ai, ai], outros ficaram no carteado [não adianta que eu não sei jogar sueca. Para mim tudo com números parece resistir à livre entrada no meu cérebro!], outros jogavam Imagem & Ação, tinha os que preferiram ficar vendo filme e os que, como eu, optaram por uma partida de Perfil [Sou LOUCA por esse jogo. Ganhei a partida!].


O outro ponto alto foi uma festa à fantasia organizada para depois do jantar. A semana tumultuada não me animou a pensar em alguma coisa digna, mas eu não queria ficar de fora. A idéia foi comprada por praticamente todos os presentes. Vi que a Onça estava dormindo com uma touca preta [naquele estilo meia-calça de cabeça, sabe?] e ela foi o ponto de partida para eu bolar um Rapper, o Bill, que vendia drogas na balada. Touca, óculos escuros, três relógios, anéis brilhantes em todos os dedos, um par de brincos brilhantes em apenas uma das orelhas, bota, sobretudo e uma meia 3/4 vermelha até o joelho em apenas uma das pernas. Foi muuuuuuito legal! Eu que nada programei, acabei ficando entre os cinco melhores! Tudo bem que a “montagem” veio acompanhada de um desempenho digno de Oscar [Ou Framboesa, o Oscar dos Piores]. Uma das crianças olhava para mim com muito medo, pelo canto dos olhos. Era tão engraçado reparar! Um dos meninos, o Cientista, que conheci lá, levou um bom tempo para saber que eu estava debaixo daquela fantasia! [“É você mesmo!? Não acredito! Tive que chegar perto para reconhecer”. Hihihi]. Fotos, muitas fotos para registrar aquela derrocada... Fazer o que? Gente como eu, sabe incorporar a fantasia!

Conheci gente nova [Thithi, Raposinha, Cientista, Daniecos, Tico e Teca, Fefê, Bê, Vampira, Raquel do Caju...]. Revi os que eu estava com saudade [Catita, CCaldas, JP, Rosinha, Kika, Leozinho, tantos, tantos] e estive com quem sempre está por perto. E é uma delícia sempre! A maior terapia é estar relax em meio a quem se gosta, fazendo algo diferente do habitual. [Senti falta de alguns, eles sabem que fazem falta!].

Sorri, chorei, me emocionei, fiz arte, cantei, comi bem, dormi mal, bati papo, fiquei em silêncio, abracei, beijei, me senti tremendamente cuidada, recebi elogios, dei conselhos, briguei com a temperatura da água do banheiro, vi uma maluca entrar correndo pela propriedade, vi um gato preto, admirei os gatos locais, dancei, peguei chuva, tirei foto, achei o tesouro, aconselhei a Lelê [e é sempre ótimo!] e fiz o mesmo com a CCaldas [momentos reveladores!], dividi o quarto com as 8 mulheres mais legais do pedaço [não que as outras não sejam, mas foi perfeito!]. São momentos que eu não esqueci. Detalhes de uma vida, histórias que contei e que conto aqui...

2 comentários:

Saulo disse...

Estava com saudades de passar aqui e pedalar com vc! Quanto á sua amiga, imagino o que sente! Em janeiro deste ano também perdei uma querida e jovem amiga de forma abrupta. Demora para passar a saudade. Porém vejo que se divertiu bastante na festa à fantasia... adorei sua criatividade!!! Bjusssssss

V. Raner disse...

Nessa parte que você disse "[Senti falta de alguns, eles sabem que fazem falta!]" você pensou em mim, né?!?! hahaha