22.1.10

Onde há liberdade, ali mora a felicidade


Querida Andy,


Durante essa minha caminhada em busca de conhecimento de mim mesma, aprendi uma lição muito valiosa (e não tem muito tempo): toda a crise é apenas um momento. O momento certo para crescer. É hora de alterar o que não está indo bem, o que não te faz bem, e fortalecer aquilo que você tem de bom. E, acredite, todos temos muita coisa boa para fazer e oferecer. Não é raro não percebermos. É hora de avaliar onde quer chegar. A opinião dos outros é apenas um indício, ela não é uma verdade absoluta. Mas aponta para uma direção. Não define, sugere.


Vou te dizer uma coisa. Parecerá um comentário óbvio, porém as coisas mais simples são as que a gente coloca de lado em primeiro lugar durante uma crise. A simplicidade parece aquela mobília mais fácil de empurrar para o lado e no final, ela se mostra a mais importante. Talvez essencial. Veja bem: não existe ninguém fácil nesse mundo. Vivemos um teatro sem ensaio, com seus dramas, tramas e enredos a nos envolver perante a vida. Estamos no palco da realidade e construção do nosso eu é o script do ator principal. Temos que ser o agente modificador e não apenas espectadores dos acontecimentos que definem os nossos rumos.


Andy, eu acho muito fácil lidar com você, que é transparente. E isso me agrada. Seus erros, seus medos, seus acertos me são claros, mesmo que você os tente esconder. Mas eu respeito o seu tempo. Porque o tempo dos acontecimentos é uma preciosidade quase inquestionável. Para se fazer um bolo é preciso de ingredientes, vontade, uma pitada de amor e um forno com tempo certo de cozimento. O tempo, o fogo e o fermento determinam o sucesso da receita. O tempo que dedicamos às pessoas, o calor com que a abraçamos e os ingredientes que usamos para nos dar a conhecer é que determinam o sucesso da receita de uma relação. Nem uma pitada a mais, nem um condimento a menos.


Muitas vezes temos pequenos planos e projetos que nos dão imensa alegria. E quantas vezes o outro percebe que aquilo ali parece que não vai dar muito certo... Se os damos são menores, não vale muito mais a pena a alegria de ver uma meia-boca realizada, que o estresse de ter que abdicar de um plano em função das regras de terceiros? O que falta nessa vida é gente que venha somar. Somemos sonhos, sorrisos, dignidade, força de vontade, apoio, elogios. Somemos a crença em coisas boas, no futuro melhor que nos aguarda... nem que esse futuro exista apenas dentro de nós. Porque é em nós, é dentro de nós que os sonhos são gerados. E quando bem fundamentados, as chances deles se tornarem realidade são imensas. Por isso penso em sorrisos futuros, em lágrimas de alegria, em bolhas de sabão, em beijos e abraços apertados, em crianças correndo pelos campos, em cabelos balançando ao vento, em mãos dadas.


Eu penso na finitude da vida como a gente a conhece. Penso na decrepitude do nosso corpo. Mas não consigo sequer imaginar a corrupção da alma. Enquanto ela estiver intacta, eu estarei livre. E onde há liberdade, ali mora a felicidade. Não nos tornemos cativos do tempo, das convenções, das desilusões. Não nos entreguemos a finitude dos dias, porque não sabemos quando será o fim. É preciso beber a vida até a última gota, como um bom vinho em taça e cristal (ou a bebida que você mais gostar). Gelada. Refrescante. Esplendida. Magnífica.


Sobre você, já falamos aqui: sim, você é uma pessoa difícil. Mas quem não é? Conviver comigo, muitas vezes, é insuportável. Daí o meu medo de ficar só. Tenho batalhado para mudar a minha postura, a começar por dentro de casa, porque a gente maltrata a quem mais deve amar. Não por dever, mas porque amor não retribuído é tempo desperdiçado, é felicidade que se joga pela janela, é juntar lixo nos bueiros emocionais, é entupir a alma de tranqueira, é ser cego em meio a um campo de girassol (ou sua flor favorita).


De que adianta um relacionamento em que você está desgostoso? Você não pode mudar o outro. Você só pode mudar a você mesmo. Então, tem que ser maduro o suficiente para saber ouvir e ponderar as coisas. Saber se o que o outro está falando procede ou não. Mas você ouve? Ouvir também é um ator de despojamento e disponibilidade. Pensa comigo: se as pessoas a sua volta te tratassem da mesma forma que você trata os que contigo convivem, com mesmo peso e mesma medida, de forma implacável, sem ouvir, só fazendo o que quisesse, da forma que quisesse e na hora própria, você estaria feliz?


Andy, você tem que aprender a se colocar no lugar do outro, mas de verdade. Cada um é cada um, com seus tipos e demandas diferentes. Conviver é ceder, mas ceder de verdade, ser menos egoísta com a vontade dos outros sobre a nossa vontade. Não é se calar e deixar tudo para lá, porque dai você seria egoísta com você mesmo. E, além disso, nada seria resolvido.Não pode ser tão passional. Eu tive que aprender a desenvolver uma capa de proteção dos meus sentimentos. Não é me fechar, mas colocar um portão no coração, deixando o que é bom entrar e o que é ruim fica lá fora.


Nem a família é obrigada a nos ouvir. Você só tem o direito de falar se conquistar o direito de ser ouvido, se for ponderado, se souber escutar também, avaliar, ceder aqui para ganhar lá na frente, barganhar. Você faz isso? Liderança não é tirania. Saber ouvir quando se está sendo contrariado é uma arte. Sofrer faz parte da nosso caminho em busca da tal maturidade. Tem que ter disposição.


E o que é isso de ter medo de morrer e trazer alívio e não saudade? Depois que você morrer, acabou. Pum. Nada mais importa, nada mais muda nada. O futuro é agora. Viver pensando no hoje e não projetando o amanhã sem fim. Se você quer ser uma agente transformadora, comece com a única coisa que você pode transformar: você!

11 comentários:

Fernando Rocha disse...

Embora o texto seja longo, não é cansativo, é possível fruí-lo do início até o fim. O gênero adotado, meio assemelhando-se a uma carta pessoal, talvez desperte o interesse do leitor, tal comoGoethe, utilizou no clássico "Os Sofrimentos do Jovem Werther".
Liberdade é de fato felicidade, mas antes é necessário lembrarmos do conselho do bom e velho Renato Russo: "Disciplina é liberdade", pois em tempos de deturpação do Carpe Diem, o conceito de liberdade não é benigno, não é?
Mudar a gente mesmo, esta é a principal missão, mas ás vezes só nos damos contas tardiamente, citando o legionário novamente, há um discurso dele, num disco ao vivo, que diz exatamente isso.Fecho com você e com ele!
Tenho um continho chamado "Fábula Dramática", que possui forte relação com o antpenúltimo páragrafo, quando for ao meu blog leia-o se assim desejar.
Até o momento, este é o texto que você postou, aqui no seu blog, que mais me agradou.
Parabéns! (sinceros)

Anônimo disse...

Durante a leitura, pensei de e em tudo: em quem é Andy e no momento vivido por ela nesse momento. Mas pensei principalmente, na minha vida. Peguei um tantão de lições pra mim. Texto lindo que me faz passar sempre por aqui. Noite de sexta-feira ainda mais gloriosa. Obrigada!
em tempo: qual o blog de Fernando?

Bibi disse...

Fernando, querido
Vamos por partes!
Eu achei realmente que o texto estava bem longo. Ainda estou com medo das pessoas deixarem de ler por causa disso. Sua resposta me traz esperança e me lota de carinho. Já usei esse gênero carta antes e ela é sempre direcionada a alguém de verdade. Andy existe. Eu não sei se disciplina é liberdade, mesmo que a frase tenha sido dita pelo grande RR. Sei que liberdade não é libertinagem, não é loucura, não é algo individualista. Viver o dia é vivê-lo em boas parcerias, repercutir fatos para que se tornem momentos. Não nascemos para sermos sós.
Quando a gente se dá conta não importa. O que importa é o que vamos fazer a partir disso. Acredito que tudo tem seu tempo determinado e há tempo para todo propósito, quando nos lançamos a ele com o coração aberto.
Que bom que o meu texto te tocou dessa forma. Seus elogios tem um peso especial. Obrigada de coração. Atingir os intelectuais é sempre uma condição mais difícil, mas é uma tarefa agradabilíssima, quando se consegue. O faço não nessa intenção, mas na busca pela verdade interna de todos nós. Obrigada pela companhia e pelas pedaladas!
XOXO

Bibi disse...

Dê K, querida!
Visitinha que me faz sorrir!
Andy é alguém que amo, mas é alguém que também está em cada um de nós. Nos unimos por dores e alegrias comuns. Não estamos sós nesse teatro da vida. O texto é para Andy, mas é para mim e para você também, como tudo o que escrevo. Fico feliz de você ter percebido isso e de ter conseguido encontrar conforto nas palavras. São palavras macias, fofas, de algodão.

O link do blog do Fernando está aqui à direita - Neurótico Autonomo. Passa lá, que eu também passarei.
XOXO

Saulo disse...

Perita nas letras, boa destruidora de corações. Sua linguagem destrói meus dramas e me arrasta de volta à razão. Não me manifestei imediatamente porque precisava digerir tudo. Você bem sabe como sou lento para isso. Diante de tudo que tem ocorrido, tenho algo a mais para partilhar com você, mas tem que ser olho-no-olho daquele nosso jeito íntimo especial e descompromissado.
Você me completa com esta capacidade de ver a vida por um prisma bem mais suave. Você não me agride, não me afronta, não me desafia, não me incomoda... pelo contrário, você é uma das poucas pessoas no mundo que com poucas palavras consegue me quebrar e me demover das inertes teimosias. Preciso muito de você, hoje e sempre. Seu amor me ajuda a lidar com este "touro" estúpido que às vezes se hospeda em mim. Você desperta meu lado "boi-manso". Você me faz feliz porque me faz sentir que sou importante e mereço tanta atenção. Te amo.

Fernando Rocha disse...

O link com o texto está aqui http://neuroticoautonomo.zip.net/arch2009-01-25_2009-01-31.html
Cara Bibi, não sou um intelectual, pode acreditar nisso, não se trata de falsa modéstia.

Luis Paulo disse...

Diante de tantas palavras....fico apenas com uma: emoção!!!

Bibi disse...

ô meu Deus, Saulo, adorei cada palavra que você escreveu aqui! Destruidora de corações? Não! Eu quero descontruir intenções e transformar em desejos coerentes, vontades sinceras, visões além do óbvio... sei lá! "Boi Manso" foi tudo! Tô rindo de doer a barriga, dái já perdi toda a moral para escrever algo coerente aqui! hehe Mas te amo também e quero te ver feliz e sempre por perto!

Bibi disse...

LP: adorei a palavra! É a minha cara! Sempre quero me emocionar e é um sentimento que eu não desprezo!

disse...

Oi Bia, q saudade de ti!!

Mulher, após diiaaass sem internet por causa da chuva, ou melhor das tempestades daqui de Sampa, a mesma que fez queimar o aparelho da Net; retorno hoje ao mundo "virtual"....e que felicidade retornar depois de quase 15 dias e me deparar com um post como esse!!

Que delícia de ler!! Mais uma vez vc me faz ou "nos faz", pobres mortais, diantes de suas palavras pararmos pra refletir...

...como escreveu a Denise, passa tudo pela mente...aguça a curiosidade em saber sobre a Andy e nos faz analisarmos a nós mesmos!!

Só tenho a agradecer. Hoje foi um retorno a Blogosfera em alto estilo...afinal vc é um espetaculo escrevendo!! Creio q vc tem a essência do seu Blog. Em outras palavras, vc me parece uma magnitude de sentimentos...lindos, encantadores, profuntos, tocantes e reflexivos....MARAVILHOSOS!!

Amei!!
Ah! espero q esteja bem. Da última vez estava mal, com o corpo dolorido...

É isso. Paro por aqui visto que o mundo começou a desmoronar nesse momento em chuva...vou correr pra desligar tudo antes que acabe queimando meu computador.

Mulher, quase me esqueci...

...Te desejo um novo e divino Amor!!

Beijos carinhosos.

Bibi disse...

Vá! Sabe que eu estava me perguntando por onde andava vc?! Vc, Bino e Marcia sumiram! Agora sei que o seu motivo foi técnico. Somos meio reféns da tecnologia mesmo.

Eu sou pobre mortal, sou muito pobre mortal, muito precisando de gente e de afetos sinceros! Eu me revejo naquilo que escrevo e espero que muitas pessoas encontrem a resposta necessária nas parcas linhas, porque assim e só assim despretenciosamente poderei saber que estou fazendo o bem para alguém além de mim ou da Andy que precisava dessas palavras.

Estou bem sim! Estou ótima. Fase superatarefada por fora, mas de muita paz interna.

Pois é SP está chovendo e eu estou indo para the city! Ai Papai! Depóis eu conto como foi!

xoxo