13.1.10

E tudo mais jogo num verso


Não choro,
Meu segredo é que sou rapaz esforçado,
Fico parado, calado, quieto,
Não corro, não choro, não converso,
Massacro meu medo,
Mascaro minha dor,
Já sei sofrer.
Não preciso de gente que me oriente,
Se você me pergunta
Como vai?
Respondo sempre igual,
Tudo legal,
Mas quando você vai embora,
Movo meu rosto no espelho,
Minha alma chora.
Vejo o rio de janeiro
Comovo, não salvo, não mudo
Meu sujo olho vermelho,
Não fico calado, não fico parado, não fico quieto,
Corro, choro, converso,
E tudo mais jogo num verso
Intitulado
Mal secreto.
- Waly Salomão


O melhor do Fashion Rio para mim foi relembrar uma bela história. Estava entrando na sala de imprensa, quando vejo meu amigo fotógrafo Moscow. Fui lá bater um papinho, dar o beijo que só havia sido jogado de longe, entre uma sala e outra de desfiles. E ele me disse que havia falado no meu nome no dia anterior. Perguntei o motivo e lá veio a história...


Moscow e eu começamos meio juntos. Eu, repórter-foca (o termo que se usa em jornalismo para alguém que está dando seus primeiros passos em uma redação) e ele, um pouco mais que lambe-lambe (desculpa aê, mas é para dar um panorama). Lembro bem as vezes em que fui buscá-lo em casa, num prediozinho ali perto do Catete. Sempre tinha uma pauta (evento) para a gente fazer, mas nunca era nada que demandasse um jogo de cintura maior (ah, seu eu soubesse o quanto se pode tirar de experiências como essa...)


Pois bem, Moscow lembrou do dia em que fomos fazer o lançamento de uma loja de tapetes persas (para a revista de celebridades). Lá chegando, não havia muito o que fazer render. Mas foi nesse dia que a gente conheceu o poeta Waly Salomão. Ele se sentou numa mesa com a gente e ficou falando altas loucuras (loucura é mesmo a linguagem dos poetas). E eu ali, dando a maior atenção, mas não a atenção devida. Moscow ainda me falou:


- Cara, jamais esqueci desse dia. Se a gente soubesse a real importância do homem...


Vejam vocês! O poeta maldito, rasgado, amado. Ali, batendo papo na maior animação. E ele gostava de falar alto. Era um apaixonado. Pela vida. E sua morte me trouxe tristeza. O irmão dele, Antonio Salomão (também poeta), lembra até hoje com muito carinho dessa atenção diferente que a gente deu a seu irmão (e a ele, por extensão). Há anos não nos vemos, mas pode contar que quando nos esbarramos, ele sabe... Ele sempre demonstra que sabe. E quem tem gratidão. Muitas vezes o poeta só precisa de uma plateia que o ouça com carinho e atenção. E eu podia ter bebido daquela fonte com mais propriedade...


Moscow pensa a mesma coisa. E complementa, com muito saudosismo...


- Se a gente soubesse...


Foi tão bom lembrar disso ali no Fashion Rio. Foi tão bacana saber que faço parte das doces memórias de alguém legal. E que me lembro - e como me lembro - desse dia dos tapetes persas... Eu, ao lado do cara que conseguia ganhar a vida com o que eu faço para vida ganhar. "Se a gente soubesse...".

4 comentários:

Ana Martins disse...

Felizes memórias que fazem pare de toda uma vida!
Bjo carinhoso, Bia!
Desta amiga
Ana

Saulo disse...

Estas memórias do primeiros passos são tão gostosas!! Com o passar o tempo vemos o quanto poderíamos ter aproveitado mais o período de "experiências"...

Dani disse...

Adoro Wally, ele escreveu o melhor texto sobre Oiticica!!! bjs saudosos.

Bibi disse...

Saulo: É como engatinhar já grande

Ana: Que bom que ainda dá para lembrar de tanta coisa! E vivi tanta coisa boa, graças a Deus!

Dani: Morrendo de saudade mesmo! Bom falar dessas coisas de arte que vc entende... hehehe