Acho que essa é a primeira vez que eu vou recomeçar um texto já publicado. Talvez a história ainda não estivesse pronta – internamente – para ser publicada no blog. Tenho que saber lidar com essas variáveis de tempo de decantação. Há sentimentos urgentes e pontuais, que refletem parte e não o todo. Ou refletem um momento e não a história.
O tema medo já é recorrente nos meus textos, no meu imaginário e no meu desejo de escrever sobre; o que demanda uma viagem um pouquinho mais profunda que a superficialidade. Uma vez, a caminho da terapia, observei uma frase pichada em um muro: “Você tem medo de que?”... Jamais esqueci aquele momento, aquele encontro com a frase que fala e cala: de que eu tenho medo, afinal?
Até hoje eu não tenho uma resposta concreta sobre essa pergunta que o mundo me fez... Talvez a resposta esteja no desenrolar da vida; muito provavelmente ela não é tão específica quanto supõe a minha mente. Deixo a resposta para a raiz da existência e sigo refletindo momentos e expectativas.
Repara só: quando tudo parece bem; ele 'aparece': o medo. Cara mais chato esse aí; vou te contar... É o elemento surpresa que estraga a festa, a fantasia, traz um dado – nem sempre lúcido – sobre a realidade, alterando o estado da fantasia. Tem uma música do JQuest que diz: “Ei medo, eu não te escuto mais. Você não me leva a nada”. Há verdades e mentiras nessa sentença: true lies.
Essa coisa de ter medo me perturba muito. Coisa de gente controladora, uma faceta da minha personalidade que tento {controlar? Hahahha} não deixar se criar, digamos assim. Ai de mim que sou tão tolinha...
Pergunta: por que fantasmas internos voltam sempre a assombrar? Os complicadores da vida somos nós mesmos que criamos. Ou deixamos ‘se criar’. Como? Quando permitimos que uma situação ocupe um espaço que não lhe pertence; não lhe é cabível. Não mais. O medo nos acompanha em algumas situações da vida. Natural. Ele é parte da gama geral de sentimentos que cultivamos em nosso interior desde a mais tenra idade e ao longo de toda a existência. Posso afirmar que o medo é um rapazinho difícil de ser abandonado, viu? Ele insiste em nos render e/ou nos rodear. Trabalha na malandragem.
Eu tenho medo de muitas coisas. Principalmente da responsabilidade de certas escolhas. Porque toda a escolha também é uma renúncia. Contra ela não há lei. Muitas vezes me pego usando essa palavra mais vezes do que gostaria. Para justificar uma série de atitudes que na verdade foi só um deixar para lá; fatos que preferi não encarar. Instinto de preservação? Não... Limitante de emoções, muito provavelmente.
Os meus temores acabam por se tornar fiéis de uma balança chamada consciência. Usado em boa medida, o sentimento limitante torna-se protetor. Ele só me aprisiona, quando eu deixo de viver as minhas escolhas em função unicamente dele: o medo. Usado com segurança e em boa medida, ele acaba por se tornar um bom fiel. Daqueles, no entanto, que a gente confia desconfiando. hehehe
Estava lendo um livro que nos alertava sobre a necessidade de criarmos um tipo de proteção emocional. Só que esta não pode vir disfarçada sob a capa do medo. Proteção está mais perto da palavra ‘cuidado’, que da omissão motivada por um sentimento que é o contrário da coragem.
Tenho medo sim, mas também carrego comigo o firme propósito de viver todas as situações que a vida me permite, com coerência e responsabilidade para comigo e os meus sentimentos. Até os passos vacilantes fazem a história de uma vida. O medo de dar um passo errado ou de deixar que alguém perto de você o faça {através de suas próprias reflexões e escolhas, claro, não fruto de uma loucura desvairada} é limitante e incapacitante. Quebrar a cara é parte da vida! Cria couraça, faz crescer espaços internos. A maneira como lidamos com o resultado não esperado de uma ação – a que gera medo – é que vai ser de fundamental importância para os próximos passos futuros.
Veja só: quando tudo vai indo bem, o medo vem o sopra um trauma no seu ouvido. Então você recorda coisas que já deviam estar esquecidas. E recua. Acha mesmo que é melhor não viver a ter que fazer uma aposta? Quando se ganha, é o nirvana. Quando se perde, é uma lição; portanto, um ganho. Quando se deixa de escolher, escolhe-se a não vida; marca-se passo nos mesmos espaços da existência. Sempre a espera de algo ou alguém que nunca vem. Claro, a resposta está em você e não no outro!
O medo é trabalhado na insegurança do ser e do saber. Agora que eu sei que ele existe, fica mais difícil ter o ímpeto de me jogar nos acontecimentos de peito aberto. Mas agora que eu sei que ele se apresenta, mais me sinto desafiada a vencê-lo. O medo não me paralisa. Ele apenas me alerta. As vezes o medo me seduz por inteira. As vezes é como o fogo, que me atrai e me repele. Ele me faz queimar, me faz arder, me aquece, me protege, ilumina o meu caminho, me cobre de fumaça, me chama a atenção, me hipnotiza e me consome.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
11 comentários:
gostei da frase: "Cada escolha é também uma renúncia!"
É o que eu sempre digo Sah
Ouvi um semiótico dizer, que um dos motivos dos nossos medos, é a formação cristã da nossa sociedade, principalmente o período baroco, calcado no antigo testamento.
mas vai saber né!
F: Exite uma linha fina de pensamento dentro de mim, se formando, que passa justamente por essa questão. Faz sentido!
Dá medo até de falar... morte! Essa eu temo!
faz amor com ele
o medo
Saulo eu não temo a morte. Temo o sofrimento em vida.
Zé: essa é sempre uma opção!
[...] me hipnotiza e me consome. Nossa, adorei esse final. Não sei se me sinto assim em relação (s) ao medo (s). Penso que nada em exagero é bom. Medo na medida certa faz bem... ( não sei quanto a você )mas quanto estou com medo penso muito e isso me faz questionar. Não vejo o medo só como limitação também não o vejo como o mal único. Aliás o que realmente hipinotiza é a forma que você escreve ^^. Beijo e se cuida.
Medo as vezes é bom
E as vezes é ruim sentir...
Hum...
Temo a morte, deixar tudo o que gosto e que amo!
Mas enquanto isso..vivo!
Pois não tenho medo de viver!
Bjs querida
ÓTIMO POST!!!
Mas acho que o maior medo que todo mundo tem é o de ser responsável por suas próprias decisões. Por que, aí, se der errado, você não tem a quem culpar. Você não é mais vítima. Foi uma escolha que você fez....
Priscila Marinho: primeira visita e já chegou arrasando! Wow! Quantas palavras lindas! Qta ponderação!! Amei, amei! volta sempre e estarei sempre com vc! Obrigada!
Mary: Já te adotei guria! Como andam as coisas?
Luke: é isso ai mesmo! The same here!
Postar um comentário