4.5.09

Pedro Bloch


Antes [ou depois] de escrever um texto aqui no BibideBicicleta, eu sempre faço a ronda nos blogs que eu indico aqui na minha página. Muito mais que oferecer um material que me agrada aos que me visitam ou mesmo bajular meus amigos, faço isso porque tenho paixão por histórias. Um fato puxa o outro e além de me tornar uma pessoa mais culta, faz de mim também uma melhor conhecedora dos sentimentos humanos. Gosto muito.


Em uma dessas visitas ao De Vez Em Quando, encontrei um texto do André sobre o seu encontro com a nadadora Maria Lenk. Um texto encantador, que encontrou eco nas raízes do meu passado. Já comentei sobre esse fato AQUI, mas foi rapidamente. Acho que a história merece uma segunda tinta, um novo colorido, um brilho no olhar.


Então, depois de ler sobre Maria Lenk voltei às páginas do livro da vida e fui me encontrar comigo ainda menina, no colégio, logo que entrei para o [antigo] ginásio. Minha antiga escola foi a responsável por dar muito gás à minha criatividade. Foram muitas histórias. A mais forte delas foi a Feira do Livro. Janete, a professora de Literatura, deu um autor para cada turma [eram quatro] trabalhar na Feira do Livro. O evento movimentava toda a escola: promovia barraquinhas com trabalhos dos alunos, oficinas literárias e encontro com o autor. Era um dia inteiro e você ia se inscrevendo nas atividades que aconteciam em horários variados.


Minha turma ficou com o Pedro Bloch. A gente tinha lido um livro dele: Pai, Me Compra Um Amigo?”. O meu grupo, dentro da turma, ficou responsável por entrar em contato com o autor. A Fafá [a menina era alta, loira e de olhos azuis, parecia uma princesa Italiana] conseguiu um encontro do grupo com ele, porque no dia da Feira ele estaria viajando. A Mãe dela [uma daquelas “tias” animadas] colocou uma seis pessoas dentro de uma Belina rumo ao apartamento do Pedro Bloch, em Copacabana.


Antes de sair de casa, o combinado: cada um faria duas perguntas pré-definidas, que seriam gravadas em um rádio-gravador [sim, um dinossauro de fita k-7, que hoje seria maior e mais pesado que um laptop]. Distribuídas as perguntas, fomos vibrando para a casa do que descobriríamos ser, mais tarde, o bom velhinho.


Minha Mãe, que até hoje escuta o galo cantar e não sabe aonde, disse que eu devia dar os parabéns, porque era aniversário dele. Espalhei a notícia aos demais e entramos todos dando “olá, feliz aniversário”. Ele recebeu aqueles seis pré-adolescentes com o sorriso enorme e nos avisou do primeiro furo: “Hoje não é meu aniversário”. Era do outro Bloch, o Adolpho, dono da Manchete.


Lembro de haver um constrangimento no ar. Eu, que nunca me fiz de rogada, soltei: “Então parabéns para o seu primo! Posso me sentar aqui?”. Ele riu e me fez um sinal para que eu me acomodasse no sofá. Pedro sentou-se em uma cadeira antiga, de modo que pudesse olhar os seis ali. Sua esposa também estava na sala, numa cadeira bem mais afastada à nossa. Mas dava para perceber seu interesse no assunto.


Gravador azeitado, começamos a fazer as perguntas. Achei aquilo tão pouco para o trabalho que havíamos tido para chegar até ali. Não me contive. Depois de todos terminarem com suas perguntas metralhei o cara com os meus questionamentos. Ele estava falante, estava mostrando-se interessado e me dando atenção. O que ele queria? Perguntei, perguntei e perguntei. Ele respondia muito bem humorado, sempre rindo muito e querendo novos motivos para contar outras histórias. Vez ou outra a esposa dele também dizia uma ou duas palavras. Ela era bem contida. Até que...


... Ate que veio o segundo furo: “O senhor gosta tanto de crianças, trabalha com elas como fonoaudiólogo, escreve livros infanto-juvenis... Por que não teve filhos?”. Essa ele pensou antes de responder. A esposa dele tinha lágrimas nos olhos e eu pensava: “uia! O que eu fiz?”, mas não me intimidei e mantive o olhar. Ele começou: “A vida tem dessas coisas. Nós optamos...”. A mulher dele interrompeu: “Eu não posso ter filhos”. Eu, dentro de mim, evocava o Mussum: “Cacildis!”. Ele a repreendeu com carinho: “Não, nós não pudemos”. E ele tornou a falar. Ela foi para a cozinha pegar sorvete e biscoitos pra gente.


Enquanto comíamos, Pedro foi até seu escritório e nos trouxe livros de sua autoria. O meu foi o seu preferido: “Dito, O Negrinho da Flauta”. O único também, que veio com assinatura e dedicatória. Ao colocar o livro em minhas mãos, ele disse: “Você é uma figura incrível. Pode ter certeza de que será personagem do meu próximo livro”.




Se eu fui ou não fui, nunca soube. Meus pais não ligaram para essa história [e tantas outras]. Minha obrigação era ser honesta e passar de ano, o resto era perfumaria. Prefiro acreditar que um dia vou me encontrar em algum livro dele. Um que tenha sido escrito perto de 1989, o ano em que conheci o cara que me deu tão cedo a certeza de que eu seria Jornalista. Foi um encontro único e inesquecível.


6 comentários:

Fernando Rocha disse...

Parece fato que este encontro funcionou com uma espécie de epifania, a qual indicara sua futura profissão.

Bibi disse...

TOTALMENTE! Aquele foi o cara!

Saulo disse...

Nossa!! Eu também fui um adolescente assim... me punha em cada saia justa! Fiz a mesma pergunta a Tia Zara e tio Savério e me lembro como ficaram constrangidos com a resposta. Ela disse: "Deus assim planejou e nós respeitamos". Você sempre foi uma exímia reporter... A.Bicudo! Bjus rsrs

Bibi disse...

Saulo: eu sempre fui boa de usar a saia justa! hahahaha

Dani Lomba disse...

"Casildis..." vc e suas LINDAS Histórias! AMEI! Beijo!

Bibi disse...

Histórias da vida! Essa é especial!