2.5.09

Somebody Else

Foto: Knuttz


Não sei se contei [acho que sim] que eu voltei a ler uns textos de Sociologia? Revisitando os Grandes Pensadores atualmente [mais experiente], o meu entendimento é tão outro. Vai chegando um tempo que a Razão e a Emoção vão encontrando seu equilíbrio na área intelectual [embora eu saiba que sempre serei mais emoção, porque dentro de mim vive essa dona chamada Drama Queen, que é responsável pelas maiores inspirações e os mais intensos sofrimentos].

Não fui a fundo a nenhum deles, mas comecei a pincelar cada qual aos pouquinhos. Gosto quando os textos voltam à fase da Revolução Industrial ou ao Pensamento Iluminista ou a Reforma Religiosa. São pontos da História que me agradam! E data desta época o início da problemática sócio-psicológica da modernidade [a meu ver. Meu ponto de partida de observação é sempre por ai]. Os dois campos unidos como aquelas bonequinhas de papel de se corta e elas aparecem enfileiradas de mãos dadas [sempre admirei essa arte, mas nunca me ensinaram a fazer. Alguém se habilita? Adoro entreter criança com papel... Mas essa é outra história].

Os campos foram sendo tomados. Evasão de gente para a cidade. Produção em larga escala. Espaços vão sendo tomados. Tanto no que diz respeito ao geográfico, quanto ao temporal. Muitas horas de trabalho, pouco tempo para tantas outras questões e menos espaço ainda para você se encontrar individualmente. A coisa ficou tão estranha que, não havendo mais condição, a cidade foi crescendo "para cima": prédios altos e ocupação irregular dos morros, no caso do Rio. A minha impressão é a de que qualquer dia nós estaremos totalmente cercados por prédios. Já estamos cercados pelas grades [um paralelo com a prisão domiciliar voluntária, motivada pela violência. E a repressão dos nossos sentimentos dentro de nosso círculo-cubículo possível de sobreviver sob regras e condições estabelecidas].

Estava na análise, tratando de outras questões, quando interrompi a terapeuta para falar:

“Você está percebendo que o grande questionamento, a grande angústia atual tem relação direta com a auto-estima?”

Fiquei pensando no imediatismo das respostas, no encurtamento do preparo de cada coisa através dos instantâneos, na falta de paciência para plantar e colher frutos. Como viemos parar aqui? Eu tenho uma relação estranha com o tempo e com a sua administração. Em momentos sou no mínimo 10 anos mais velha que a minha geração; em outros, sou pelo menos 10 anos mais jovem. E vivo no embate para tentar acalmar o tempo dentro de mim.

Estamos tão misturados e apertados nesse novo modelo de sociedade que se impõe que, mesmo sem querer, nos pegamos reproduzindo padrões. Não somos o que podemos ser; mas sim o que devemos. São regrinhas não escritas, mas cobradas violentamente por nossa percepção. São loucuras que já fazem parte de um senso comum e você se deixa levar. Um exemplo? A paranóia com a aparência. Estamos tão envolvidos dentro dessa bolha de realidade, que muitas mulheres se submetem a exercícios loucos e operações malucas para que todas se pareçam! Alguém definiu que o barato era ter pernas roliças, peitos fartos, lábios carnudos, cabelos lisos, narizes afilados, uma bela bunda, barriga chapada... O piercing entra em cena, depois sai de cena... Se eram loiras, agora deixam as raízes escuras, as pontas platinadas... Cirurgia para colocar hímen, para tirar costela... Bronzeamento artificial + pensamentos artificiais. Não posso com isso! Busco desesperadamente a minha individualidade através da espontaneidade. O preço é bem alto, viu? Mas não posso lutar contra a minha natureza e negar quem eu sou - mesmo sendo “diferente”. Paciência!

A psicóloga carioca Joana de Vilhena Novaes em entrevista à Revista Época destacou o seguinte pensamento, fruto de seus estudos:

Durante sete anos, atendi na Clínica Social da PUC-RJ pessoas insatisfeitas com sua imagem corporal. A forma como elas tentavam se adequar ao padrão de beleza muitas vezes era dolorosa, e não fazer nada para se adequar igualmente
causava angústia. As pessoas limitam sua vida social, deixam de usar determinadas roupas, ir à praia ou mesmo às festas. Esse grupo de doentes da beleza é um número exponencialmente crescente. Outro tipo de operação que está
crescendo é a cirurgia da intimidade. Por meio de métodos abrasivos, mulheres têm procurado médicos para clarear, diminuir ou aumentar o clitóris
[Minha intervenção: tal como filme de ficção científica, eu já imagino uma fileira de
mulheres-bonecas, todas com as xoxotas iguais! The Hell! Qual a graça?]. A necessidade de se adequar aos padrões está acabando com a autoestima e a libido dessas mulheres. Trata-se de uma cultura opressiva.


Com os homens a história não é nada diferente! Há os loucos que se drogam em academias para ganhar músculos. Há os que preferem perder a libido e tomar um remédio para ter cabelo. Há os que nunca estão satisfeitos com a sua autoimagem e projetam para o corpo a insegurança que os consome por dentro. Também existem muitos com aquela “doença” em relação ao tamanho do pênis [esse grupo dos Bin-Bins é bem grande! Não o dos que tem "pau" pequeno, mas os que dão importância exagerada a isso]. Vemos tantos homens-janela: com peito saradão e as pernas finas. Já ouvi falar dos que deixam as orelhas arrastarem no tatame do jiu-jítsu para ficarem com aquele estilo Dumbo-cabeçudo-marombado.

Oh, Meu Deus! Por que temos tanto medo de sermos quem somos? É claro que a gente deve buscar uma qualidade de vida! Não sou A LOUCA de dizer o contrário. Mas, batendo numa velha tecla, a beleza passa e o que somos internamente só se aperfeiçoa. Tentamos fazer reparos no material externo e muitas vezes chega-se a um exagero inominável: atestado de medo do tempo e ninguém pode fazer o tempo parar. Resultado? Inadequação. Sou a favor sim das intervenções. Agora quando uma mulher 60 se mata para ser como a sua filha de 25... Hum, Gata, alguma coisa está fora do lugar! Acho a minha Mãe a criatura mais linda aos 72 anos, sem vaidade e sem nunca ter feito uma cirurgia estética sequer. E não sou só eu que o digo [do contrário essa teoria estaria furada, seria apenas bajulação]. A beleza de fora é inegável, mas a maior delas é a de dentro, que reluz para fora sem o menor esforço.

No blog da Astrid Fontenelle encontrei um conselho da amiga dela que termina bem esse post:

"Minha avó me deu um conselho: 'minha filha, só case com um homem que você adore conversar'”.

Eu amei esse sábio conselho...

7 comentários:

jose luis disse...

como eu ja' disse
sexy e' a inteligencia

Bibi disse...

Delux! Um dia a gente combina e eu passo a acreditar! Não antes!

Saulo disse...

As tendências e a moda escravizam. Eu sempre fui bastante alheio a isso. Não acredito que tanta neurose tenha benefício ou traga felicidade. Deprimente.

Anônimo disse...

Bibi, seu texto me leva a música Força Estranha, em mais um momento de sublime inspiração de Caetano Veloso: "...o tempo não para, no entanto, ele nunca envelhece...",
lindo ,não?. A insastifação, a não
aceitação de sí mesma, pode levar
a pessoa a doenças graves.
O legal é procurar viver bem, dando
valor ao que há de mais caro em nossa vida: a família, os amigos, a esposa(o), o namorado(a), a religiosidade,o trabalho, assim,
teremos serenidade para resolver qualquer adversidade.
Abraços, saúde e paz.
Bino

Bibi disse...

Eu não acho que tendencias e moda escravizam, Saulo... Tudo depende da maneira pela qual você lida com as coisas. Em todos os âmbitos da vida, quando há excesso, o exagero escraviza!

Bino: as musicas de Caetano são dignas de analise sempre, não é? Como as de Chico!

Dani Lomba disse...

A luta pra quem não quer esses padrões, é árdoa, difícil e muitas vezes dolorida.
Infelizmente muita gente só quer o instantaneo, o AGORA, o HOJE!
A vida não pára não!

Bibi disse...

Dani: a vida não pára,mas o que é instantaneo é muitas vezes sem sabor; fumaça. É uma luta forte, mas não é inglória!