12.5.09

As Nuvens


Como eu gosto da madrugada. Queria ter meu próprio escritório para virar noites assim: escrevendo. O ato de escrever evoca o que eu tenho de mais íntimo. São sentimentos que brotam à superfície da pele e cedem à superficialidade das coisas de outrora, as que os deixam guardados no escuro da alma.

Nem sempre o que emana daquilo que é interno é escrito. Basta ser sentido para fazer sentido. Quando se brinca com palavras, de certa forma diverte-se o pensamento. Esse já tão carregado de preocupações. Assim como o travesseiro é um bom analista para muitos, o teclado faz às vezes de terapeuta da minha imaginação. E fico a pensar que o pensamento que me guia, também pode servir de rumo para tantos outros que só querem descansar a vista em um bom texto. Descanse a vida em um bom pensamento para assim produzir uma boa atitude.

Não é raro termos a necessidade de começar qualquer processo por nós mesmos. Quando foi a última vez em que você disse: hoje eu vou começar o dia me amando? Como amar bem o que bem não se ama? Como ser infinito se o que te limita é a sua pele? Como fazer a diferença, se você não sabe fazer diferente? É preciso ter a ousadia de fazer cócegas na imaginação.

Eu gosto de tentar ver o infinito através do horizonte. É quando mais tenho noção da minha pequenez. Ontem olhei a lua cheia e tentei ver o que parecia um coelho no canto direito de sua face. Lembrei dos dias em que viagens longas de carro me angustiavam demais. A solução era simples! Bastava olhar as nuvens e imaginar cenas, desenhar, criar formas e histórias sem fim. O que são as nuvens metaforicamente?

As nuvens são instantes de um infinito. Assim como a paixão. Paixões passageiras podem durar uma existência inteira. É uma unidade de tempo bastante complexa, aliás. Só cabe na teoria da relatividade. Ou melhor, na teoria das relações humanas. Tão profundas e tão sensíveis. Se o vento é o ar em movimento; a paixão talvez possa ser o amor ganhando forma. Instável e arrebatadora. Terrível e inconsequente. Frágil e dada à mudanças constantes. Nunca se saberá qual é a sua essência, se não se delimitar, se não imaginarmos formas para as nuvens.

Eu já vi um gato. Eu já vi um rato. Eu já vi um jardim. Eu já vi a guerra e cavaleiros montados em seus cavalos. Eu já vi um sorriso. Também observei gordas e gigantes. Um mundo que cabe tão somente na minha imaginação. Tenho um mundo maior ainda a esperar, dentro do meu coração. E lá cabem tantos sentimentos, momentos, pessoas. É lá que escondo chamas e mistérios. Um coração ideológico, costurado pela ternura, forjado pela fé, incitado pelo medo, excitado pelo toque carinhoso, estimulado pelo abraço, partido pela dor, arrebatado e dominado pelo amor.

13 comentários:

Ana Martins disse...

"E lá cabem tantos sentimentos, momentos, pessoas. É lá que escondo chamas e mistérios. Um coração ideológico, costurado pela ternura, forjado pela fé, incitado pelo medo, excitado pelo toque carinhoso, estimulado pelo abraço, partido pela dor, arrebatado e dominado pelo amor"

QUE LINDO!!! Identificação total...
Ah, eu amo muito a madrugada...

jose luis disse...

dona Lua:
o amor e' madrugador
eu tambem gosto muto da madrugada
mas de amanhecer
gosto do amanhecer

Bibi disse...

Ana: eu sempre gosto de reler aos olhos das pessoas o que escrevi! É um banquete para mim tb! Eu me identifico com as suas identificações.

Zé: a paixão amanhace e dormece em instantes fecundos!

Lucas Ferraz disse...

Acho legal quando a gente rompe a barreira de núvens e voa sobre elas. Quando, em meio a um tempo chuvoso, a gente vai acima delas e descobre o sol!

Gosto de escrever à noite também. Quando voltamos da Ilha de Lost (lembra?), eu passei noites inteiras sentado à beira de uma janela com o Diskman que tocava MP3 no ouvido, um diário e uma caneta na mão e a companhia de um café e um cigarro.

Fossa? Sim. Mas eu vivi um momento pós-ilha meio como o do Jack....rs Eu precisava me afundar um pouco pra aceitar a realidade aqui fora.

Curiosidade: Por que você gostaria de ter um escritório para escrever à noite? Eu sempre achei que o gostoso de escrever à noite era estar em casa....

beijão!

Bibi disse...

Luke: eu queria ter um escritório em casa! hahaha Vc não conhece o meu lar de madrugada!

Ana Raquel =] disse...

Olá Bibi, tudo bem??? Vi seu cantinho lá no sobretudo, sobre tudo do Moratelli e vim conferir... adorei tudo por aqui!!!! Sabe que às vezes bate em mim uma "invejinha" (ai confesso!rs) de pessoas que sabem escrever assim como vc?? Com a alma... parece ser fácil colocar tudo que sentimos no papel, mas eu não consigo tão fácil assim... quem sabe um dia?!?!?!rs Passa lá no meu cantinho depois, será um prazer receber sua visitinha.... Bjooooooo

Bibi disse...

Oi Ana Raquel!
Volta sempre! Como digo: esse espaço é nosso, porque os Ciclistas me ajudam muito a ter inspiração! Vou lá te visitar sim! A escrita é como uma digital: não dá para ter uma igual! Não tente ser parecida, basta ser vc!
Um beijo!

Fernando Rocha disse...

Ultimamente tenho dormido muito durante as madrugaas, mas durante a adolescência costumava trabalhar com meu caderno.
Tenho tentado abstrair da minha imaginação, quero tentar encontrar o fantástico dentro da realidade.

Bibi disse...

Não devemos perder o fantástico de vista nunca! E para ver é preciso conhecer a linguagem do coração!

Saulo disse...

Com que tranquilidade vc desliza pelos pensamentos. Devaneios coesos! Você também devia fazer filosofia!! Uma cientista das idéias, d'alma!

Bibi disse...

Saulo, tô pensando em uma pós em psicanálise. Que tal?

Saulo disse...

ui!!! show!!

Bibi disse...

Uia!