28.3.10

Cheiro de amor no ar


Eu sempre acreditei - e não sem um toque de lirismo - que o amor, quando verdadeiro, pode ser experimentado plenamente através dos cinco sentidos. Eles nos ajudam a ter uma relação diversa com o mundo à nossa volta e coopera para que o corpo se relacione com o ambiente em que se encontra de forma única. E vamos combinar que o ambiente do ser apaixonado é bem outro que o dos demais "mortais" que passam sobrevivendo à adversidade e apenas degustando os momentos da vida.

Lá na escola (nas aulas da "Tia Cotinha") a gente aprendeu a definição específica de audição, olfato, paladar, tato e visão. Companheiros únicos, “quase” inseparáveis. Mas quando um deles falha, o(s) outro(s) imediatamente se apresenta(m) para compensar e proporcionar experiências mais completas. Acredito que o amor é uma manifestação tão sublime, que ele próprio (o amor) e só ele pode ser uma experiência completa em relação à máxima dos sentidos.


Dizem que os quatro elementos são: o fogo, a terra, a água e o ar. Eu gostava tanto da ideia que aquela música do Sidney Magal pregava na abertura da novela "Rainha da Sucata": “São cinco elementos apunhalando o coração: o fogo, a terra, a água, o ar e a paixão”. Acho a paixão um elemento poderosíssimo e onde se pode experimentar o apogeu dos cinco sentidos. Acho também que muitas vezes a paixão pode ser o prenúncio do amor – nem sempre, claro – quando ela se acalma e restam muito mais que brumas da memória.

Quando se ama alguém os cinco sentidos se organizam de maneira própria e diferente. Acredito em potencialização das experiências. A voz da pessoa não é apenas reconhecida, mas torna-se um estímulo e ao mesmo tempo em que desperta, também acalma. O cheiro da pessoa realça sensações únicas e você é capaz de reconhecer esse mesmo cheiro em ambientes completamente diversos do original. Um rastro que entorpece. A visão inunda e transporta para outros lugares... Lembranças vivas, sonhos quase reais. E o tato? Transmissão de calor, de vibrações únicas. Muitas vezes um toque é capaz de transformar, de dar certezas, de convidar, de suscitar encantamentos adormecidos. Consistência da pele, comunicação não-verbal.

Ao se usar os cinco sentidos numa analogia ao amor, penso em palavras como êxtase e sublime. Penso na enésima potência quando essas condições são manifestas nas pessoas apaixonadas. E acredito que essa experiência nos deixe mais humanos, menos errantes, mais tolerantes. Quando se diz sim ao amor, somos menos egoístas e nos damos a chance de sermos mais desenvolvidos; devolvemos ao mundo um pouco mais de esperança, de delicadeza e suavidade.


Usamos os cinco sentidos na melhor de suas expressões e criamos em volta de nós um ambiente ideal. Porque amar e ser amado em retribuição é a maior benção que se pode querer e desejar em troca. E o crescimento do desamor me assusta deveras. Mostra o quanto perdemos a sensibilidade de alma, a capacidade de transcender com os cinco sentidos. Quando alguém recusa o amor, abre a porta para o egoísmo e a indiferença. Perde a chance da plenitude da vida.

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