Um médico amigo uma vez me receitou um remédio diferente dos relaxantes musculares que eu estava acostumada a tomar ha séculos. Junto com a indicação, veio a observação expressa: “Essa dor é porque você carrega nesses ombros todos os problemas do mundo”. Uma frase comum, mas não uma frase qualquer. Marcante, porque ele enxergava além do óbvio, que me escapa com certa constância, principalmente quando se trata de mim para mim. Salve essa informação.
Estou terminando de ler um livro interessante que se chama "Barbie & Ruth". Eu já falei dele por aqui, mas não sobre ele. A história narra a saga de uma mulher à frente de seu tempo – Ruth Handler –, que com esforço, tenacidade, idéias simples e uma visão empresarial além do óbvio construiu o império dos brinquedos chamada Mattel. A empresa que surgiu do fundo do quintal de Ruth e seu marido Elliot na Califórnia em 1945 e que existe até hoje. Nas linhas do livro você percebe o quanto Ruth lutou para transformar esse sonho em realidade; o quanto abdicou da vida pessoal; o quanto empregou de esforço e saúde para transformar um sonho fluído em algo palpável. E você percebe também que forças além de seu controle acabam por tirar a Mattel de sua administração. Não foi falência... Ela teve que conviver com o fato de que a Mattel, depois de ser erguida do nada e de ter sido solidificada por ela em mais de 40 anos, estava nas mãos de outras pessoas. Duro golpe: do nada ao tudo ao nada. Salve essa informação.
Hoje de manhã meu passado me procurou. Tenho uma amiga que é enfermeira. Ela teve um casamento conturbado e no meio de toda a confusão ela engravidou. O ex-marido fez várias tentativas para que ela perdesse o bebê. Não conseguiu e o menino nasceu forte e bonito. Ela, no entanto, não poderia ter mais filhos. O garoto cresceu entre nós: levado, mas um ótimo menino. Vivia entre os amigos da mãe. Cresceu, ficou tranquilão, gente boa. Morava com a mãe perto de uma favela, lugar que sempre viveu. Fez 17 anos, já estava trabalhando e arrumou uma namoradinha. Feliz ele, infeliz o dono do lugar, que mandou que ele terminasse o romance. Ao que parece, ele não terminou. Ontem morreu com oito tiros na porta de casa. Ainda foi levado com vida para o hospital em que a mãe dava plantão. Não foi possível.
O médico amigo diz que eu carrego o mundo nas costas. Penso que ele tem razão. Sou uma pessoa que conhece muita gente e quanto mais gente entra na minha vida, mais amor eu troco e desenvolvo. Quando se ama se ganha e também se perde. O que me leva a conclusão da segunda história. A gente não está preparado para perder algo que gozou do nosso investimento físico e emocional. Chorei pelo menino que vi nascer. Chorei pela mãe dele. Chorei pelo avô, que já havia perdido dois dedos no trabalho, um filho com AIDS, um filho assassinado por índios, duas esposas por doença e agora o neto, porque escolheu amar a pessoa errada. E se você me perguntar se é um homem ruim, eu te digo: não, ele é um homem doce e de paz.
Temo muito pela cidade em que eu vivo. Temo muito pelo tipo de vida que levo e as escolhas que eu faço e deixo de fazer. Temo muito, quando ouço que alguém pode determinar quem se ama ou quem se deixa de amar sob pena de morte. Temo muito porque há lugares tão perto em que não se pode decidir sobre as suas escolhas. Temo muito porque esse caso vai apenas entrar para a estatística da violência urbana do Rio de Janeiro e quem morreu foi uma criança preciosa para sua mãe, sua família, seus amigos de uma vida toda; alguém que escolheu o caminho do bem, embora cercado pelo mal, e cujo único deslize foi amar a pessoa talvez certa no lugar certamente errado. Sei que ele está com Jesus. Ai de nós...
Estou terminando de ler um livro interessante que se chama "Barbie & Ruth". Eu já falei dele por aqui, mas não sobre ele. A história narra a saga de uma mulher à frente de seu tempo – Ruth Handler –, que com esforço, tenacidade, idéias simples e uma visão empresarial além do óbvio construiu o império dos brinquedos chamada Mattel. A empresa que surgiu do fundo do quintal de Ruth e seu marido Elliot na Califórnia em 1945 e que existe até hoje. Nas linhas do livro você percebe o quanto Ruth lutou para transformar esse sonho em realidade; o quanto abdicou da vida pessoal; o quanto empregou de esforço e saúde para transformar um sonho fluído em algo palpável. E você percebe também que forças além de seu controle acabam por tirar a Mattel de sua administração. Não foi falência... Ela teve que conviver com o fato de que a Mattel, depois de ser erguida do nada e de ter sido solidificada por ela em mais de 40 anos, estava nas mãos de outras pessoas. Duro golpe: do nada ao tudo ao nada. Salve essa informação.
Hoje de manhã meu passado me procurou. Tenho uma amiga que é enfermeira. Ela teve um casamento conturbado e no meio de toda a confusão ela engravidou. O ex-marido fez várias tentativas para que ela perdesse o bebê. Não conseguiu e o menino nasceu forte e bonito. Ela, no entanto, não poderia ter mais filhos. O garoto cresceu entre nós: levado, mas um ótimo menino. Vivia entre os amigos da mãe. Cresceu, ficou tranquilão, gente boa. Morava com a mãe perto de uma favela, lugar que sempre viveu. Fez 17 anos, já estava trabalhando e arrumou uma namoradinha. Feliz ele, infeliz o dono do lugar, que mandou que ele terminasse o romance. Ao que parece, ele não terminou. Ontem morreu com oito tiros na porta de casa. Ainda foi levado com vida para o hospital em que a mãe dava plantão. Não foi possível.
O médico amigo diz que eu carrego o mundo nas costas. Penso que ele tem razão. Sou uma pessoa que conhece muita gente e quanto mais gente entra na minha vida, mais amor eu troco e desenvolvo. Quando se ama se ganha e também se perde. O que me leva a conclusão da segunda história. A gente não está preparado para perder algo que gozou do nosso investimento físico e emocional. Chorei pelo menino que vi nascer. Chorei pela mãe dele. Chorei pelo avô, que já havia perdido dois dedos no trabalho, um filho com AIDS, um filho assassinado por índios, duas esposas por doença e agora o neto, porque escolheu amar a pessoa errada. E se você me perguntar se é um homem ruim, eu te digo: não, ele é um homem doce e de paz.
Temo muito pela cidade em que eu vivo. Temo muito pelo tipo de vida que levo e as escolhas que eu faço e deixo de fazer. Temo muito, quando ouço que alguém pode determinar quem se ama ou quem se deixa de amar sob pena de morte. Temo muito porque há lugares tão perto em que não se pode decidir sobre as suas escolhas. Temo muito porque esse caso vai apenas entrar para a estatística da violência urbana do Rio de Janeiro e quem morreu foi uma criança preciosa para sua mãe, sua família, seus amigos de uma vida toda; alguém que escolheu o caminho do bem, embora cercado pelo mal, e cujo único deslize foi amar a pessoa talvez certa no lugar certamente errado. Sei que ele está com Jesus. Ai de nós...
8 comentários:
Que coisa, Bia. Não deixo de ficar chocada com esse tipo de notícia!!! Daí fico a me perguntar. O que esse avô fez pra passar por tudo isso? E a mãe? Por que uns morrem de forma tão trágica? Eis os mistérios de Deus. Vai entender, né?
bjo
fer
a gente é feliz e nem sabe
pqp
Comentar é até difícil depois de uma história dessas...que Deus console essa família, pq só Ele mesmo...
Fer, Zé e Bia Bug: eu sei, não há comentários que bastem... Mas acho que a gente deve se chocar sempre com aquilo que é barbárie, senão, seremos bestiais, abriremos um pouco mão da nossa humanidade. Muito triste... Só Deus mesmo e só Nele pode-se confiar. Acho que momentos como esse mostram que é preciso resolver o rumo na busca pela felicidade real. Um susto, uma situação absurda.
Bibi e eu chorei também, embora não conheça as pessoas, só de imaginar a dor e o desespero desta mãe que lutou tanto para ter este filho amado.
E chorei de impotência também, pq estamos num mundo em que só temos a proteção de Deus. Só com ela podemos contar.
Hj, dia em que o cartunista Glauco e seu filho foram barbaramente assassinados num assalto em São Paulo, só chorando de tristeza e impotência.
Beijo querida.
Helga: essa é uma dor nossa, né? De pessoas que estão reféns da violência cotidiana. Não chorei só porque conheço, mas porque diante dos fatos, você conhece a fragilidade de ser humano. Obrigada pela solidariedade. E nosso sentimento à família do Galuco. "The Horror"...
Prima... que triste!!!! To pasmado. Eu conheci? Bjuss
Não, Saulo, não conheceu!
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