17.3.09

Lei da Selva

Foto de Marcos Serra Lima


Durante o tempo que eu morei fora do país, uma onda de assassinatos começou a acontecer perto da região onde estava hospedada. As pessoas eram alvejadas na rua, a esmo, por um franco-atirador armado com um rifle. Foram 14 ataques, 13 vítimas e 10 mortos em 21 dias de caçada. O enredo, que mais parecia um thriller de Hollywood, era mais que assustador. As notícias e falta de pistas era aflitivas o suficiente para quem não estava mais habituado a trevas nos jornais.

A despeito de todas essas coisas, meus amigos, nativos da terra, continuavam a seguir com as suas vidas. Idas e vindas em longas estradas, sem maiores palpitações. Estávamos há três ou quatro horas de onde tudo vinha ocorrendo. E meus amigos nem comentavam sobre o assunto. Uma noite eles me levaram para jantar em um restaurante numa região bem tranqüila e longe do housing. E eu lembro bem de ter perguntado: “vocês não ficam preocupados com essa história? Tudo está acontecendo aqui tão perto. Para esse maluco fugir para cá é um pulo!”. A resposta deles veio na maior calma que se possa imaginar: “nãaaaaaao. Não temos o menor medo. Essas coisas são normais por aqui. Tem sempre um maluco com uma arma na mão para fazer besteira. É parte da insanidade do meu país. Não dá para parar a nossa vida em função de mais uma história como tantas outras”.

Fiquei chocada. Fato. Como poderiam estar tranqüilos com um louco varrido à solta, fazendo vítimas a esmo? No momento seguinte, no entanto, pensei no meu país e na minha cidade. Muito se fala sobre assalto e balas perdidas no Rio de Janeiro. Muito se fala sobre agressão no trânsito, ação de polícia, milícia e bandidagem comendo solta. A gente deixa, por acaso, de circular pelas ruas? Não! É preciso viver, se dar ao direito de ir e vir. E mesmo tomando todas as precauções que supomos serem as melhores para a nossa autodefesa, estamos sujeitos sempre ao acaso das circunstâncias. E refleti que as frases: “tem sempre um maluco com uma arma na mão para fazer besteira. Não dá para parar a nossa vida em função de mais uma história como tantas outras” é a pura e dura verdade que temos pela frente, estampada nos jornais.

Hoje eu leio que turistas são assaltados em Búzios; que piora o quadro clínico da idosa baleada na Avenida Brasil no domingo; que homem é preso ao tentar escalar e cair de um prédio no Leblon. No entanto, a notícia que mais me chocou não aconteceu no meu estado. Em São Paulo, um homem é preso com fuzis usados para caçar elefante na África. Cuma? Selva de pedra? Tão louca quanto essa notícia, foi saber que uma mulher foi flechada em Nova York. Sim, uma flecha de 76 centímetros perfurou o seu estômago. Já já vamos ler nos noticiários que elefante foi atingido por caminhão desgovernado no trânsito louco da selva africana ou que o tigre teve a sua “bengala” furtada por bandidos nas perigosas trilhas da savana. Quando a ordem natural das coisas se altera, a lei que fica é a da sobrevivência.

8 comentários:

Sah. disse...

ou que homem mantinha filha presa escondida e tinha filhos com ela...

q absurdo! esse mundo esta doido! que tem mente sã aqui eh louco!

Anônimo disse...

Pois é, infelizmente, a gente precisa "se acostumar" com essas coisas, ou deixa de viver. Morei em frente a uma favela e cansei de ouvir tiros. Trabalhei perto da Vila Cruzeiro, onde aconteceram todos aqueles conflitos, vi aluno contando da morte do vizinho, da perna baleada do primo, do primo sentado no chão da delegacia na foto do jornal... se a gente não se acostuma, enlouquece. É triste, mas necessário para não ficar com medo da vida.
Besos.

Bibi disse...

Ai, é muito triste! É confuso também!

Ana Martins disse...

Bia, é muito triste mesmo, e nem justifica o que vou dizer... mas cada vez mais me preocupo menos em sobreviver e viver a vida com mais qualidade no amor... amor ao meu próximo, amor à alegria e a fazer o melhor que eu possa para viver a diferença por onde eu estiver.
Não tenho mesmo o controle de nada na vida, senão a minha própria escolha de viver esta minha jornada procurando ser alguém melhor.

Anônimo disse...

Isso tem muito a ver com esse caso do austríaco que está sendo julgado nesse momento na Europa. Selvageria pura.

Saulo disse...

Por isso eu curto demais a minha toca! Trauma, neura, drama... sei lá... acontece que essa selva me assusta e limita. Vivo bastante, mas à luz o dia!

Bibi disse...

Ah, Saulo, pára de palhaçada! Vc vive o dia, porque dorme com as galinhas! Sem querer ofender! hehehe

Saulo disse...

Có có ró có!