11.3.09

Quem Quer Ser?


Sempre fui de seguir à risca o calendário escolar. Mas eu tinha um dia certo para faltar e não era meu aniversário. Naquele dia, fosse o que tivesse que ser, eu ficaria em casa. O dia seguinte à apresentação do Oscar. Eu sempre acompanhei a cerimônia religiosamente. E como ela é absurdamente longa, ficava impossível acordar cedo no outro dia para ir à escola. Todas as amigas já sabiam. Eu fazia bolão comigo mesma. E ficava enlouquecida com a tradução simultânea; o que para mim era o máximo do saber inglês!


Confesso que perdi a prática há alguns anos. Essa temporada, nem me interessei pelos concorrentes, também não quis saber sobre os vencedores. Tem um tempo muito grande que não vou ao cinema, inclusive. Adoro. Não tenho tido tempo. Achei o tempo ideal. Na rua, entre um compromisso e outro, consegui agendar uma sessão. 16:30 da tarde. E me perguntei: "quem vai ao cinema a essa hora em um dia de semana?" Bastante gente, para a minha surpresa. Fui ver “Quem Quer Ser um Milionário?”, sem saber que esse é o filme do momento. Que bom que não deixei passar, porque vê-lo na telona, sozinha, fez toda a diferença.


O roteiro e o tipo de filmagem – com a câmera nervosa – fogem à regrinha dos Standards Americanos. “Quem Quer Ser um Milionário?” [de produção inglesa] foi rodado em Mumbai, com atores locais, canções indianas e orçamento restritíssimo, de apenas US$ 15 milhões [que ironia com o título!]. O diretor Danny Boyle provou que quem tem uma boa história e um desejo ardente de contar essa história pode ir longe. E ele foi! Arrebatou oito estatuetas do Oscar [melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro adaptado, melhor canção original, melhor trilha sonora, melhor edição, melhor mixagem de som e melhor fotografia]. Não só isso. Deixa uma marca irresistível em quem vai assistir de coração aberto.



A história é a de um jovem chamado Jamal Malik. Ele vem de uma família das favelas de Mumbai, Índia, e está prestes a experimentar um dos dias mais importantes de sua vida: ele está a apenas uma pergunta de conquistar o prémio de 20 milhões de rupias na versão do programa "Who Wants To Be A Millionaire?" ou o nosso "Show do Milhão". Antes da pergunta final, no entanto, ele é levado pela polícia, acusado de estar trapaceando. Nenhum intelectual jamais conseguiu chegar até aquele ponto do programa. As perguntas mais importantes são: O que faz um rapaz sem interesse no dinheiro num concurso televisivo? E como é que ele sabe todas as respostas?


Na tentativa de provar a sua inocência, Jamal conta a história da sua vida nas ruas e as aventuras com o seu irmão, Salim. Durante esse flashback nós percebemos que ele sabe as respostas que a vida lhe ensinou. Jamal é um garoto correto; seu irmão, Salim, é o responsável por fazer as escolhas erradas. Ainda assim, muitas vezes são essas escolhas que os salvam dos apuros. Essa também é uma história de amor. Na infância, Jamal conhece e salva a vida de Latika. Eles se apaixonam, mas o destino trata de os separar algumas tantas vezes.

Cerca de 20% dos diálogos do filme são em hindi. E você nem percebe. Essa é uma história de sobrevivência, de fraternidade e duelo entre irmãos; dos caminhos que as escolhas da vida nos levam; do amor que não tem fim; de generosidade e da crueldade humana, de saber se virar na adversidade. Também fala de preconceito, de vaidade, do lado mais miserável da pobreza, do submundo, de poder, de arrependimento, de não ter nada a perder, quando se tem tudo a ganhar...

[ATENÇÃO! Revelações do nesse parágrafo]
Gosto demais da maneira como a história dos irmãos é contada. Um protegendo o outro. A dualidade, a dicotomia das escolhas. As cenas e locações são lindíssimas, daí o Oscar de fotografia. Uma bastante emblemática, na minha opinião, é quando eles adormecem no teto do trem de mãos dadas [cena rápida, mas tão informativa]. No roteiro, destaco a dupla redenção de Salim, que também me emociona: quando ele se desfaz da sua “melhor” posição para que o irmão não seja cegado, como fizeram à outra criança. E quando ele empenha a vida dele para deixa Latika partir ao encontro de Jamal e lhe dá nas mãos o celular, porque tinha certeza que o irmão ligaria. Muito lindo! Lindo também é o encontro de Jamal com o menino cego cantando no metrô. Como eles se reconhecem em generosidade e compaixão. A cena final também é muito delicada. Jamal beija a cicatriz no rosto de Latika, quase um pedido de desculpas por deixar tal brutalidade ter acontecido, antes de beijá-la de verdade.

Ineditamente eu não chorei. Mas, saí de lá diferente. A frase final de Latika durante o jogo: “Deus está com você” foi bastante emblemática. Não foi um mantra, mas a certeza de que Deus está comigo, mesmo quando eu não consigo senti-Lo por perto, devido às dificuldades que me aparecem na vida. E ao sair da sala de cinema, as coisas boas começaram a acontecer para mim... Tudo é uma questão de crer e esperar a hora certa de colher o que você investiu.

6 comentários:

Anônimo disse...

Ainda bem q eu já vi o filme, pq, pra mim, vc revelou demais antes de avisar que ia revelar muita coisa. hehehehe

Bibi disse...

O revelado antes do aviso de revelação era o que já estava revelado em um monte de sinopses! Tô juntim com o povo que escrevinha cinema!
O filme não cabe em letras!

Saulo disse...

Percepção! Eu não saí do filme com tanta satisfação. Pelo contrário, posso até dizer que não gostei. Tambéma acompanho o oscar e geralmente assisto todos os que foram indicados (os ue ganharam ou não). Fui ao cinema para ver ESTE filme e me arrependi de não ter visto qq outro. Achei cansativo, cruento. Entendo que se adeque à cultura indiana, mas... talvez eu ainda não esteja globalizado o suficiente para gostar. A meu ver este prêmio foi mais por motivação política do que de mérito! Não sei o que deu na academia nesta ano.

Anônimo disse...

Opa! Tava querendo a indicação de um bom filme pra ver....acho q consegui!!!!

Ah...para de desculpa...senta, e comece....ainda q aleatoriamente...se vc pegar, no mínimo, 40% dos posts desse blog, já é um otimo livro!!!

Bjssssssssssssss

PS: To na espera pelo livro...sou mt sua fã!!

Anônimo disse...

Achei um filme bem repetitivo - ou melhor, repetido. Tudo ali já vimos e revimos. Agora com a roupagem indiana. A história de amor, blah, que pé no saco. Nao me convenceu, não. Acho que o filme se perde aí. Se partisse prum romeu e julieta, tvz fosse menos mal. Se eles nao ficassem juntos e dançando felizes na estação de trem, seria mais suportável.
E a camera nervosa é copia descarada de nosso 'cidade de deus'. com direito a frango correndo pelas ruelas!

Bibi disse...

Val veja só como as pessoas são diferentes. Eu não vi Cidade de Deus. Eu não quis ver e eu não estava aqui no Brasil na época do seu lançamento. Vi sim, pedaços e na TV e fim. Mas, ironicamente, não tive curiosidade de ver bandidagem tipo exportação. Vi a câmera nervosa do Meirelles e amei o efeito. Amei justamente o fato dela ter sido repetida no filme Indiano. A história de amor deles não seria mesmo um conto à brasileira, mas eu encarei como fato pela ótica Indiana, que crê piamente em destino. Pobreza e luxo sem glamour. A história de amor era secundária. A principal era a dos dois irmãos e seus destinos. A história mostra que quem escolhe fazer o bem, acaba sempre "ganhando uma forcinha do destino". Se partisse para um romeu e Julieta vc acharia óbvio demais (vc tb reclamaria!). A questão é ótica. Seu foco não se adequou ao enredo do longa! Pirata de óculos e tapa-olho! rsrsrs