6.3.09

Luke

Eu e Luke no Monumento à George Washington - Ano 2002

A vida estava mudando. Larguei tudo para embarcar em uma aventura acima da linha do Equador. Tinha conforto, faculdade e um bom emprego. Nada disso me segurou. O chamado à aventura era irresistível.
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Cheguei ao destino. Era uma vila no meio de uma floresta. A autoestrada, cortando as árvores altas, parecia ser a única via de ligação com o mundo lá fora. Depois eu viria a descobrir que a vila era um mundo à parte.
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A estadia seria longa. Impossível não exagerar na mala, quando se vai para um lugar onde as quatro estações são bem definidas. Mesmo com a facilidade das rodinhas, eu estava cômicamente atrapalhada. Ruim de roda mesmo!

Muitos brasileiros já estavam há quase duas semanas naquela vila. Já sabiam que toda a agitação prometida no embarque estava longe de acontecer. E passavam o tempo uns com os outros, vendo o tempo passar. Literalmente. O novo grupo que chegava atraiu a atenção de alguns - os que não estavam bebendo, fumando, trepando [ou tentando arrumar alguém que topasse] ou simplesmente vendo televisão em total prostração. Há, tinha também os que planejavam fazer M...
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O grupo que chegava tinha mais mulheres que homens. O grupo que observava os novatos chegarem tinha mais homens que mulheres. Quis o destino que aquele loirinho, magro e de cabelos arrepiados se oferecesse para carregar as minhas malas. Um movimento que transformou toda a nossa história. Ali nasceu uma grande amizade. Muito mais que isso, ali eu ganhava um irmão ofertado pela vida. E eu cheguei a amar esse irmão tanto quanto eu amo os meus irmãos de "sangue". Ou mais.
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Eu era uma menina atrevida e desprotegida. Ele era um garoto que tinha sede de aventura e buscava por liberdade sem se dar conta de onde poderia chegar. Eu tinha um namorado que resolveu apenas sobreviver e não viver a aventura. E foi através de uma pessoa que não me protegeu, que eu acabei indo morar no mesmo quarto do Luke, a convite dele, no alojamento masculino. Éramos três. Se o Luke tinha a sede de aventura, eu tinha a água. Fui farol. Ele foi embarcação. Cuidei dele; ele me guiou. Ele se assumiu gay, contando um segredo sagrado, e eu dei colo e compreensão.
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Com o Luke eu andei em várias Montanhas Russas, sabendo cada detalhe de sua construção; seus recordes; suas particularidades. Fiz compras de supermercado e dei consultoria na hora de garimpar roupas. Fomos de Van para Washington D.C. e a dita simplesmente deu pane em frente a um posto de gasolina. Nos olhamos incrédulos. Duas garrafas de óleo resolveram a questão que nos parecia crucial, de vida ou morte. Fui ao Medieval Times e gostei. Tive um Magic Day em New York [depois vou colocar aqui o link do post]. Ouvi Cassia Eller night by night antes de dormir em seu aparelho de som que emitia uma cor azul.
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Com o Luke comprei walk talks para que não nos perdêssemos dentro do Wal Mart. Estava preparada para uma viagem, quando o encontrei no posto de gasolina, indo para outro lugar. Ele largou seus planos, para me acompanhar a um parque de diversões com os meus amigos. Foi com ele que brinquei no Games pela primeira e única vez. Ele venceu a disputa com a pistola de água, mas eu levei para casa o ursinho azul [que tenho até hoje]. Cantamos aos gritos "We Are The Champions" dentro do Buick azul [nosso primeiro carro] parado no meio de um estacionamento gigante, mas vazio. Trancados. Aos brados. Aos risos.

2002 - A Van dá problema na estrada para Washington D.C. em frente a um posto, em frente ao Mc Donald's. Marcão coloca o óleo sob os olhares de Bruno, Ana, Fernando e Bibi. Luke tira a foto. O que vale é a jornada!


Tudo isso e muito mais aconteceu em 2002. Esse foi o nosso universo paralelo. Desde então, nunca nos perdemos. E tantas outras coisas rolaram. Impossíveis de serem medidas, difíceis de serem narradas. No dia mais triste da minha vida, ele largou tudo para estar comigo... Me ouvindo chorar. Foi meu farol, meu colo, meu carinho, meu carinha.

Terça-feira passada nós almoçamos juntos para celebrar meu aniversário. O tempo nunca é bastante. Ao mesmo tempo, poucas palavras definem tudo. Eu subi a escada do metrô e ele esperava por mim. Sempre soube que ele estaria lá. Quando o conheci, ele era apenas um garoto. Ali na entrada do metrô eu não via mais um garoto. Um homem me esperava. Formado. Casado. Profissional de sucesso, com uma carreira gloriosa [tenho certeza] pela frente. Acredito que ali estava o homem da minha vida. Não há relação carnal, mas um encontro único de almas. E, se Deus permitir, eterno. O amor pode se manifestar de várias formas. E a amizade é o amor que sempre vence. Sem intenções ou pretensões.
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Obrigada Luke. Pelo livro. Pelo almoço. Pela vida. Por me amar e por me deixar te amar. Pela distância que não nos causa incertezas. Pela proximidade que nos torna quase eternos.


Terça-Feira - 2009 - nosso almoço via celular

Há pessoas que se furtam da maravilhosa experiência de viver, de compartilhar, de amar, de ousar amar, de se arriscar. Tudo é uma questão de tentiva e erro. Se entregar é deixar de lado as nossas vãs certezas, que não nos garantem nada além da solidão. Malas pesadas me trouxeram a leveza da vida. Ouse!

2 comentários:

Anônimo disse...

Uma amizade um amor... ou um amor uma amizade até onde isso se funde?... O mais dificil é quando você encontra tudo isso e tem a impressão de ser tarde demais...
e que tudo isso é impossivel de se viver...
invejo você... entenda pois tenho um encontro de alma... mas as circusntancias não permite ser mais que isso...

Anônimo disse...

Nossa!! Nem sei o que dizer....
Agradeço todo dia por estar ali na hora em que você chegou, por ter
tido a ideia de te ajudar a carregar a mala, por ter te conhecido.
Você tem razão: um simples movimento que mudou a história pra sempre.
Como é bom ter alguém que topa se jogar na aventura junto comigo, que
topa sair sem destino sabendo que, de um jeito ou de outro, a gente
chega lá.
Como é incrível, dentre tanta gente no mundo, conhecer aquela que me
entende e que embarca comigo e nunca vou esquecer a proposta de
viajarmos o mundo num carrinho de montanha russa.
E, de tanta montanha russa em que andamos, tantos altos e baixos,
tantas estradas por onde passamos, no final, a gente se 'encontra pra
outra folia'.
Não puder ler o post antes, mas assim é a nossa amizade: a gente pode
não ser por uma eternidade e um dia, mas quando a gente se encontra, é
como se nunca tivesse te deixado, nem por um minuto.
E não é esse o sentido da vida?
Se todo mundo tivesse uma amizade como a nossa, bastava cada um ter
uma pessoa como eu tenho você e você me tem. E o mundo seria melhor.

Você faz o mundo melhor.
Mas tem uma foto que não tiramos e precisamos tirar urgente: nós dois
em cima do trilho de uma montanha russa.

Te amo. Beijão.