5.3.09

O Contrato


Outro dia fiquei pensando por que eu gosto tanto de conferir os recados que os Ciclistas deixam aqui no Bibidebicicleta. O primeiro questionamento que me veio à mente foi se era o caso de querer aparecer. Tenho horror a essa coisa de forçar um lance para poder aparecer e venho buscando exercer a minha espontaneidade a todo custo [sendo eu no centro ou no canto da sala]. Ninguém deixa você ser apenas você, com suas particularidades e potencialidades, esquisitices e virtudes que te fazem única (o) [Ah! Cansei dessa vida de ser todo mundo igual Playmobil]. E em momento algum eu tento forçar esse tal lance por aqui, espaço sagrado. Contudo, se a gente analisar por outro ângulo, ninguém faz um blog para ficar escamoteado, escondido, inacessível, certo? [A Lolô um dia soltou isso com dose extra de verdade para mim e eu dei razão a ela. Mas era um fato sobre o qual não havia refletido].

É fato: todos nós necessitarmos de atenção. Já foi provado que bebês estimulados pelo toque carinhoso constante se desenvolvem muito mais rápido que aqueles abandonados em orfanatos, por exemplo. Eu gosto de atenção sim! Fato dois. Não gosto de forçar um lance, mas faria o que estivesse ao meu alcance [dentro das questões de capacidade, possibilidade e moral] para conquistar outros olhares, novos seguidores. Até na vida. Tudo dentro da medida do saudável e do razoável no conceito de sociedade.
E por falar em sociedade, olha só como a política encerra em si toda uma questão comportamental. Em O Contrato Social, Rousseau teoriza que o homem abre mão de sua liberdade ilimitada presente no estado de natureza para desfrutar de uma liberdade sob o patrocínio da lei; que é a vida em sociedade. Nesse “contrato”, no entanto, não estava acordado que nós precisaríamos abrir mão da criatividade e dos elementos que nos dissociam dos demais a fim de que nos tornássemos seres pasteurizados. Essa diferença, usada de forma agradável, é que nos leva aos holofotes.

Esse pensamento me encaminhou ao fato três. Se todo mundo tem a necessidade de chamar atenção para si de alguma forma [falando especificamente dos que tem blog ou do fruto do seu trabalho], por que há os que se escondem atrás de personagens e pseudônimos? Porque existem formas & formas de se fazer notar. Assim como na vida, há os que vestem capas, há os que interpretam personagens, há os que são inseguros e têm vergonha de exibir o que são: medos, desejos e inseguranças. Todos nós temos essa medida em maior ou menor escala. O que é bobagem para mim, pode ser extremamente importante para o que está perto de mim. São os nossos traumas os mesmos? São as nossas experiências desfrutadas na mesma intensidade e racionalmente desenvolvidas sob os mesmos valores morais?

Semana passada eu falei para o Moratelli: “Eu não sou igual às outras. I am one of a kind [mal traduzindo: única da espécie]”. E voltei a repetir a mesma sentença para quem, julgo eu, compreendeu de maneira oposta a intenção da palavra dita. A palavra dita tem a vantagem de te ganhar a simpatia ou o dissabor através das inflexões sonoras. A palavra escrita tem o dom de imortalizar pensamentos. Gosto dos recados que vocês deixam, porque eles imortalizam os pensamentos de quem lê as minhas palavras tão gastas. E gasto tanto, que sinto saudade das letras. Eu me reabsorvo através de quem me escreve e de quem me sabe através do escrevo. Minhas bagagens, meus traumas, minhas experiências vividas me fazem compreender com singeleza o que grandes escritores sempre repetem: “Escrever é muito difícil, é um ato solitário”. Esse mergulho para dentro liberta. O resultado desse mergulho assusta muita gente, que se acha menor por não conseguir se expressar em palavras [como a gente se inferioriza, meu Deus!]. Menor sou eu, que preciso delas [e também das suas] e de muito mais para saber-me “eu mesma” e não ser aquilo que os que desejo desejam de mim.

9 comentários:

Anônimo disse...

ta' carente, gatinha?

Bibi disse...

hahahahaha! Ah, Zé! Já estava com saudade dos seus comentários. O texto não foi de uma pessoa carente, mas de alguém que está "fula" pela incompreensão do "establishment" e do comportamento das relações socioafetivas. Tem uma bomba no meu peito, mas também tem um vazio na minha alma. Tô carente de um emprego, de um amor e de quem compreenda a natureza libertária das minhas palavras... ai ai!
Zé, não some! Um beijo para vc!

Anônimo disse...

Através da escrita, a gente consegue se expressar muito melhor - com
frequencia. Porque não estamos falando diretamente com alguém, embora
escrevamos para alguém. Estamos protegidos das reações alheias que
possam ser adversas à nossa opinião.
Escrevendo, estamos imunes a inflexões sonoras. E, assim, podemos ser
nós mesmos. Ou podemos fingir que somos quem gostaríamos de ser. É bem
mais fácil fingir sem ter que atuar.
A gente sempre se esconde e se liberta atrás de um blog, de um email,
ou mesmo do MSN.
E escrever é terapêutico também. Hoje, por exemplo, descobri que a
minha faxineira, ontem, pegou uma camisa minha do TIVOLI PARK, cortou
e usou como pano de limpeza.
VOCÊ TEM NOÇÃO DA OFENSA QUE É ISSO PARA MIM?
Estou com vontade de - em bom portugês - enfiar a porrada nela.
Entretanto estou aqui, escrevendo, pra me acalmar, assim posso
demití-la sem espancá-la.
Quem em sã consciência corta uma camisa de outra pessoa para usar como
pano?? Se fosse de futebol eu poderia, ao menos, fazer piada a
respeito....rs
Mas uma camisa do TIVOLI??? Você pode calcular o nível de irritação em
que o meu dia vai se passar hoje, né?

Espero que você tenha tido um início de quinta-feira melhor que o meu...

Beijão!

Juliana Aquino disse...

"...saber-me “eu mesma” e não ser aquilo que os que desejo desejam de mim".
Sempre Bia! Ser igual é chato. Ser exclusivo de certa forma é um presente de Deus e aguente quem puder esta exclusividade!
Beijão!!!

Anônimo disse...

Aproveite o momento, curta, leia, escreva, fique de perna pro ar, veja amigos reveja os mesmos, assitas filmes. Tudo vira na hora certa; digo por experiencia de quem ficou quase tres mês sem emprego com o amor um pouco abalado. A frase "tudo vira na hora certa" pode parecer muito comum ou sem sentido no momento; mas quando as coisa acontencem ai percebemos o controle Dele (Deus) na nossa vida.
O talves o mais importante desbafe, nos faça rir, chorar, refletir... Todos nós sempre (acredito dizer isso por todos) estamos esperando suas palavras, seu humor, seu carinho. somos 100 talves mais que diariamente nos encontramos no Bibi de Bicicleta sem sermos vistos ou até mesmo imaginarmos onde estamos e você tornou isso possivel.

Anônimo disse...

Esqueci de dizer: tudo se resolveu para mim.
Emprego novo ou melhor agora sou "patrão" e o amor voltou a brotar.

bjos

Ana Martins disse...

Bibi querida,

Escrever liberta, e tb acho que é um ato de coragem. Como vc mesma disse, a palavra escrita tem o dom de imortalizar pensamentos.
E eu amo comunicar minhas idéias e pensamentos e registrar sentimentos, emoções!

Bibi disse...

Meus queridíssimos! Obrigada sempre! O coração tá cheio de amor para dar hoje! ai ai! E vcs são destinatários de boa parte disso!
J25 - quanta notícia boa! Esperança e amor são sentimentos que caminham juntinhos. E a vitória, qdo compartilhada, tem sabor dobrado! Parabéns! Dê o melhor de si, sabendo que se o mundo quer o nosso pescoço, a gente só pode oferecer a nossa força de trabalho e um coração cheios de vontade! Vai lá garoto! Arrasa!
Bjs

ParaTodos disse...

Bia, deixei recado para você lá no Paratodos, passa lá!!!
Beijos.