7.3.09

Sol na Praça


O dia de hoje estava muito quente. O termômetro devia estar gritando perto da hora do almoço. Devia ser até possível fritar um ovo no asfalto do centro do Rio. Eu estava lá, testemunhando o passar dessa caravana sofrida. Lenta. Vagarosa em virtude da dificuldade de se locomover animadamente sob o sol. Quem poderia?

O Rio de Janeiro teve um começo de ano atípico, com sol tímido a nos intimidar. Semanas antes do Carnaval, porém, o astro rei resolveu mostrar seu esplendor e entrou na avenida pronto para ganhar nota 10 em evolução. E quem é que tira essa estrela do meio palco? Nem guarda-chuva preto e blusinha de alça resistem.

Saí de uma sala com clima de montanha e teria que andar três ou quatro quadras até o meu destino. Antes de cruzar a enorme praça à minha frente, telefonei para que ele tomasse logo o elevador e me encontrasse na portaria. Antes de chegar ao prédio, eu observei, incrédula, um número grande de pessoas sentadas no banco da praça. Sob o sol escaldante da hora do almoço. Pareciam estar ali fazendo hora. Vendo gente passar. Vendo a vida passar. Como podem? Mulheres, homens, famílias inteiras. Gente com uniforme de trabalho, gente com o “uniforme” da rua. Sentados.

Existe uma “levante” dentro de mim que me impede a prostração. Minha mãe chama isso de bicho carpinteiro. Depois dos 18 anos, muitos denominariam fogo no rabo. Não fecho com ambos. Tenho uma ansiedade que não me deixa quieta. Imagina fazer uma horinha sob o sol em uma praça em que o mais lindo a se ver é a fachada do Theatro Municipal, que hoje se encontra em obras, cheia de tapumes?

Eu não consigo ficar sentada vendo a vida passar. Feliz ou infelizmente estou sempre em atividade. Quando paro ou é para dormir ou é para elucubrar um monte de coisas no mundo da imaginação. Tenho a criatividade sempre na ordem do dia. Hoje, por exemplo, dei a seguinte idéia ao meu amigo viajante: “todo mundo que coleciona algum objeto para lembrar dos países pelos quais passou, sempre acaba em postais. Por que você não traz camisinhas dos locais pelos quais passará? É um objeto que deve ter em tudo que é lugar e que não ocupa espaço na bagagem”. Ele gostou da idéia, riu. Mas acabamos chegando à conclusão de que não somos do tipo que coleciona coisas. Trazemos fotos. E boas histórias.

Seria possível alguém ter uma grande idéia com o quengo sob o sol de 40 graus? Gosto de observar pessoas sim, mas acho muito mais interessante fazer isso sentada em um café, longe do meio da exposição. E do fogo da terra. As pessoas são incrivelmente encantadoras a olho nu.

Contudo, não estava ali para observar pessoas. Fui almoçar com um colega de trabalho. Mais uma celebração do meu aniversário. Não lembro se disse isso a ele. Sei o que não disse. E o que não disse foi: que entre os contemporâneos, os da nossa geração, ele é o cara que considero mais O CARA. Pensamento genial, texto primoroso, acidez na medida certa, curiosidade genuína, altruísmo, defeitos dos melhores que se tem notícia. Sou fã, fazer o que? Achava que eu só teria no meu hall, aqueles que já tivessem atingido o que considero o Olimpo dos escritores. Mas ele está só começando. Assim como eu. Nunca fui de ter companheiros. Estou estreitando os laços com o já amigo e agora grande companheiro de pensamento da humanidade e da visão da importância de coisas passageiras da vida.

Saí do almoço e fui resolver as pendências que sempre se têm. As pessoas continuavam sentadas, vendo a vida passar na praça. E percebi que muitos são aqueles que não estão na praça, mas ficam vendo a vida passar. Os sem atitude. Os sem coragem. Os sem força para alterar a força das circunstâncias. Muitas vezes lotam as suas agendas das mais diferentes atividades, mas no fundo estão sentados naquela mesma praça. Sempre à espera de um grande acontecimento.

7 comentários:

Anônimo disse...

eu lido no dia a dia com essas pessoas
no consultorio e nos hospitais
te digo: e' enriquecedor
ouco coisas impressionantes
e atos de gratidao indescritiveis

Saulo disse...

Definitivamente, eu não funciono bem acima dos 30º. Como eu pude nascer aqui e não no Alasca?! Quando percebo que chegamos aos 40º com tal facilidade eu me questiono se vale a pena existir de Dezembro a Abril... O ano devia começar em maio e terminar em setembro. PONTO. Ibernávamos em câmaras resfriadas e acordávamos prontos e felizes para o próximo outono!

Anônimo disse...

Hoje é o dia...
Parabéns...
Felicidades...
Grandes e pequenas realizações...
Recomeço...
Apagar velas...
Rir...
Chorar...
Compartinhar...
Amar...
Escrever...
Viver a vida como ela é...

Abraços, Bjos...
Parabéns

Luiz Felipe Angulo Filho disse...

Enquanto houver o que ser questinado, continuaremos escrevendo!

Sah. disse...

aaahhhh perdi tanta coisa nesses dias de ausencia...

ehhh menina... trabalhei muuito! essa semana eu volto! hehhe

bjooo

Eliane Santos disse...

Acho que seu amigo recusou a ideia de colecionar camisinhas com medo de que achassem que ele não transa muito nos lugares em que vai..rs Enfim... gracinhas à parte, entendo bem o sentar e ver a vida passar... Ainda mais no Centro do Rio, que é lindo... Cinelândia dá vista para o teatro cheio de tapume, mas também para o prédio da Biblioteca Nacional, para o Museu Nacional de Belas Artes e para o prédio da Câmara dos vereadores, que vale pela aquitetura do lugar, obviamente..rs
Sentar e observar tudo, de uniforme, principalmente, é ter oportunidade de fugir do duro cotidiano e poder pensar no que se quer... sem ter um chefe para mandar nos seus pensamentos ou atrapalhá-los... é ter tempo de imaginar uma besteria, uma coisa genial ou pensar em um amor... Simples assim... bjss

Drica Delli disse...

Amada... Voltei! Passei por turbulências, mas, estou de volta. Não quero ficar olhando a vida passar...mas, sabe que às vezes, só de vez em quando, dá uma preguiça....... Preguiça, sim! Aquele pecado capital que todo mundo, mesmo sem querer pratica? Então, permita-se... A vida é quente, o calor lá fora é escaldante... senta e tenta entender o que nem sempre a gente pode fazer... NADA! rsrsrsrs
Mesmo com o "quengo" pegando fogo, vc vai ver que simplesmente ver a vida passar para aluguns é questão de luxo!
Bjs!!! Adoro tu!
Ps: Tem post novo no meu Blog tb! Bjs e AMEI sua visita... Mesmo que de médico, rápida demais! :P