20.4.09

Treino a Sensibilidade


Augusto Cury é médico, psiquiatra, psicoterapeuta e escritor. Ele desenvolveu a teoria da inteligência multifocal, sobre o funcionamento da mente e o processo de construção do pensamento. Foi o autor que “caiu” nas minhas mãos essa semana. Uma boa semente que já está dando frutos.

No livro “Mestre da Sensibilidade", destaquei o seguinte trecho: “Na escola da vida não há graduação. Quem nela se diploma, faz perecer a sua criatividade; não mais fica assombrado com os mistérios que a norteiam. O melhor aluno é aquele que tem consciência do quanto não sabe. Não aquele que proclama a sua força, mas o que educa a sua sensibilidade”.

Dia desses apareceu um anônimo aqui no BibideBicicleta para me criticar. Críticas são bens reguladores, quando elas mostram a que vieram, porque e como. A pessoa não assinou. Eu poderia ter simplesmente deletado o comentário. Não o fiz [embora merecesse, porque crítica de quem não se revela é apenas pedra no telhado dos outros. Ou seja, grande bobagem]. Não estou aqui para só ganhar confete. A opinião dos outros é apenas um lado da verdade de alguém que tenta ver segundo a sua ótica [pequena, grande, baixa, rica, serena, intolerante, amorosa]. Você aproveita ou não, segundo uma avaliação sincera e livre de amarras sociais. Na hora, claro, não gostei nadinha, porque me senti julgada [E quem é que tem um blog e não se coloca em julgamento?]. Hoje, esse comentário vira reflexão.

No post Iniciativa [um dos mais comentados. Obrigada Ciclistas!] eu faço uma reflexão sobre uma matéria que eu li. Um estudo, que tentei trazer para o plano prático num misto de dúvidas, questionamentos, incertezas e um eterno querer saber. A participação dos 'InterFriends' foi motivadora e o anônimo disse: “Dá vontade mesmo de rir, quanta dúvida para uma coisa tão simples? Desculpa, Bibi, mas quantos anos você tem?”. Na urgência da espetada que se toma, respondi: “Desde quando sentimentos, vivências e inseguranças têm a ver com idade? As questões não têm necessariamente relação com as minhas dúvidas, mas são estimuladas pela matéria que li e sobre a opinião das pessoas que quero ter. Qual a sua opinião sobre isso? Posso ter 5 ou 50 anos. Depende do que vamos tratar. Estou curiosa: quem é você?”...

Nada. Sem respostas. Sem eco. Vazio. Então, Augusto Cury surge na minha vida com essa frase, esse trecho que destaquei. Quem é diplomado na escola da vida, afinal? Ainda menina, enfrentei desafios concretos inomináveis e tive que me virar para superar aqueles que não são revelados. Cada passo me deu maturidade em relação a valores, pensamentos, reflexões e sensibilidade. Nas questões de relacionamento, sei que ainda tenho tanto a aprender... E que não tem? Quantas das nossas certezas não se provaram meros pensamentos ufanistas quando foram expostos à prática? Quantas vezes não entregamos o ‘coração’ e quebramos a ‘cara’? Confiamos e somos violados nessa atitude puramente altruísta? E quantas vezes não nos encontramos revivendo, até com certa alegria, essas mesmas situações? Sempre há amor para recomeçar...

Eu ainda sou muito assombrada pelos mistérios que me norteiam. A curiosidade é praticamente a minha segunda pele. Não só pelo saber, mas pelo conhecer e reconhecer. Gosto das sutis transformações. Gosto de observar as pessoas pelos olhos [não dizem que eles são a janela da alma? Eu acredito!] e captar a essência e não a máscara social. Amo ouvir histórias. É isso que nos aproxima. É através delas que nos revelamos em entrelinhas. Gosto de ganhar tempo ouvindo relatos. O imediatismo nos transformou em meros repetidores de padrão e comportamento. Conhecemos o entorno, mas não sabemos de nós mesmos. Quando 'ganho' meu tempo em uma conversa, sei sobre a outra pessoa e aprendo um pouco de mim e para mim. Se você quer ter cumplicidade, tem que estar disposto a investir tempo no outro. A ouvir e ser ouvido. A compreender que cada um tem seu tempo de ação, reflexão e reação. Cada um tem uma experiência de vida única, que não é maior ou melhor que a do outro. É apenas a nossa história individual.

Muitos dos meus amigos estranham o fato de passar sistematicamente as minhas férias em Nova York [gente, sem nenhum luxo nisso, detesto gente que fica se gabando. Podia ser Nova Iguaçú que daria no mesmo. É só um fato]. Gosto de contemplar. Lá, como já conheço os pontos turísticos, tenho tempo de descobrir pequenas coisas novas e viver aventuras sem me preocupar que o tempo da ampulheta está chegando ao fim e eu não fiz tudo o que eu queria. Já me sentei no degrau de uma praça e fiquei olhando as pessoas passarem. E me lembro perfeitamente desse momento. Lá eu posso andar em slow motion, porque sei que não estarei ‘perdendo’ nada, mas ganhando tudo. Agora eu decidi me entregar a novas aventuras. Porque a vida é feita dessa curiosidade sem fim...

Treino a minha sensibilidade. Todos os dias. Escrevendo aqui. Lendo um livro. Telefonando para um amigo. Mandando e-mail para quem está distante. Incentivando pelo MSN. Marcando encontros sem hora para o papo terminar. Marcando almoços onde temos apenas uma hora para se dar. Visitando. Tentando me abrir. Tentando entender. Tentando ceder. Elogiando. Criticando com carinho. Admoestando com segurança no que digo. Mostrando meus limites. Marcando território. Muitas vezes me sinto como uma rosa, que se despetala ao menor toque; mas que fica firme no jardim em dias de temporal.

13 comentários:

Daniele Lomba disse...

Oh, ohohoh Rosaaaa, ohohoho Rosa...que coisa mais linda que vc escreveu, amei esse trecho:... Muitas vezes me sinto como uma rosa, que se despetala ao menor toque; mas que fica firme no jardim em dias de temporal.
Vc é mesmo uma FLÔR com RAÍZES!!
É assim que devemos ser!
Frágeis e fortes, cada coisa a seu tempo...
Beijo

Bibi disse...

Dani Lomba: Vc sabe que essa história da rosa é real? Em Saquarema teve um vendaval! Levou telhado, arrastou barcos, destruiu casas... Foi uma lenha. Mas uma rosa amarela "sobreviveu" a tudo isso. Virou um lindo poema do Thiago Rodrigues Rocha. Conhece ele?

Sah. disse...

admiro a sua coragem! voce sempre expoe seus sentimentos e opinioes! quem faz isso é muito corajoso! esses dias criei meu blog e quando fui fazer meu primeiro post eu pensei: será? será que tenho coragem de expor meus sentimentos assim? não... não tive coragem! admiro voce!

Fernando Rocha disse...

Bibi: Há muitos usuários da internet que ao invés de fazerem um bom uso desta ferramenta, prefrem utilizá-las para bobagem, as críticas são sempre bem vindas, mas desde que sejam a abertura para um diálogo e não um julgamento.
Essa questão de não haver um diplomado na vida, me angustiou muito durante a adolescência, porque achava qu a vida não tinha sentido. Atualmente meu maior prazer tem sido tentar aprender com a simplicidade.

Bibi disse...

Sah & Fernando: Já me questionei várias vezes como consigo fazer isso e principalmente a motivação. Por mais que eu escrevo de coisas que parecem tão íntimas, elas não revelam nem metade do que sou. Vivo a constante rivalidade entre expor e esconder. Mas esconder o que? Quem eu sou? De quem? Do mundo no qual eu vivo? Sou muito mais misteriosa que isso, menina! Só que descobri que não preciso me esconder nem de mim e nem daqueles que se interessam em ler e absorver essas tais palavras.
A gente sempre pensa, em algum momento, que a vida não tem sentido. Porque nossos olhos são científicos. Quando olhamos com poesia, o snetido de tudo se amplia. Qdo temos fé, a confiança se estabelece.
Existo em atos e palavras! Em amor e doação.

Dani Lomba disse...

Vc fala de VERDADE, no sentido amplo e irrestrito, mesmo quando pode parecer figura de linguagem, vc vem com a prova dos 9!
Não conheço o Thiago R. Rocha, mas vou procurar saber quem é...
Com certeza atraves dele (o poema) as rosas falam...como falaram atraves de vc!
O Cartola deveria ter conhecido vc...fariam uma bela dupla!!
Bjos e parabéns!
Dani Lomba

Bibi disse...

Deixa o Cartola com a Dona Zica! Foi um grande amor! Amores possíveis! Amores reais! Amores de seu tempo, com o tempo infinito!
Thiago é O poeta Presbiteriano! Uma das figuras mais doces que conheço...

Saulo disse...

Minha mãe já leu toda a série. O primeiro, se não me engano, foi o mestre do amor! Ela é fascinada pelo tema e comenta muito sobre os livros. O livro da "sensibilidade" já caiu em minhas mãos, mas não sei porque nunca o degustei. Fiquei instigado agora.

Bibi disse...

Devore!

Anônimo disse...

Boa Noite,garota.
Desde o primeiro contato com o BIBI DE BICICLETA, continuo apaixonado. Você escreve de forma simples,e com muita profundidade. E sinceridade. Nos toca a alma.
Bibi,Dom Paulo Evaristo Arns, conhece mais de 20 países, tendo viajado mai de 80 vezes ao exterior. Achei lindo ele dizer que voltava mais brasileiro. Sempre. E você?
Um cheiro. Do seu fã, Bino.

Bibi disse...

Boa Noite garoto! (adorei!!!)
Que bom que você ainda está apaixonado Bino! Existe em mim um exercício constante de tentar melhorar as minhas letras e tentar corresponder à atenção daqueles que fazem essa jornada comigo. Porém, no fundo, o blog é mesmo um lugar para os meus devaneios pessoais, para registrar sonhos e vida.
Eu gosto de escrever como se falasse com o papel e recebesse você na minha sala.
Dom Paulo é um garoto de sorte. Mais de 20 países é coisa muito séria! Olha o quanto de bagagem ele não deve ter trazido dentro de si? Sei que é um homem culto, mas a vida é o que acontece do lado de fora. E ele esteve lá, pisando onde o povo pisa. Uma chance formidável.
Ele diz que volta mais brasileiro, é? Acho que é porque já teve que se ausentar da sua casinha muitas vezes. Eu sempre volto feliz para casa. Volto outra. Espaços internos maiores. Vou escrever sobre isso!
Um beijo!

Dani Lomba disse...

rsrs...Longe de mim querer vc e o Cartola "juntos"...rsrs...
Só na genealidade!
Pra vc desejo o escolhido e separado especialmente pelo PAI, aí querida NÃO TEM ERRO!
É BINGO!! Opss, BINGO não, melhor dizendo BENÇÃOOOO!!
Beijosss! Dani

Bibi disse...

Dani: Ufa! Eu não tenho nenhuma genialidade! hahahah Cartola rocks! Eu quero um sem erro com Bingo, com Benção e com rosas que exalam o perfume que rouba de ti ahhhhhhh! hehehe