23.6.09

Casa de Pedra


Casa de Pedra
* Quando eu era pequena, costumávamos passar os Verões em uma casa na praia. Eu a chamava de Casa de Pedra, porque assim era feita, não de tijolos. Um dia paramos de ir. Assim, sem motivos maiores. Meus pais voltaram a esse lugar "encantado" outro dia desses. Foi uma visita rápida, bem diferente das nossas em família. Gostoso ver as fotos de como tudo mudou. E tudo muda com o passar do tempo mesmo. Ele é implacável. A casa mudou para melhor, mas a cidade perdeu seu charme de balneário secreto. Foram muitas histórias naquele lugar. Muitas mesmo e eu ainda não havia falado sobre elas...

A primeira que me ocorre foi uma travessura de criança. Minha tia V - que tem um talento com as mãos de bolos confeitados à cortes de cabelo - estava dando um trato na juba das minhas primas. Era criança, a mais nova, a mais levada. Minha Mãe não deixou que ela cortasse o meu [hoje, usando a psicologia infantil, teriam pelo menos fingido, não é?]. Nada aconteceu. Minhas primas balançando a juba e eu lá... Meu cabelo era bonito, tão liso que os grampos escorriam. Mas eu era a diferente.

O que fiz? Peguei a tesoura escondido e VLAW cortei um enorme pedaço na lateral dianteira. A tesoura voltou correndo para o lugar, mas o chumaço de cabelo que ficou nas minhas mãos, eu escondi debaixo da cama. Na verdade eu empurrei mesmo, tirando a prova do crime do meio do caminho.

Algumas meninas dormiam em colchonetes no chão. Não foi difícil perceberem um tufo enorme de cabelo ali. O mais louco é que a minha cabeça só notaram depois. E eu, que tinha cabelos lindos de princesinha, inaugurei o estilo Joãozinho - do tipo: vai no que dá.

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* Foi nessa Casa de Pedra que dei o meu primeiro beijo de língua com um garoto que eu queria que fosse meu "namoradinho". Já havia beijado alguns garotos antes. Na rua, a gente brincava de "Pêra, Uva, Maça ou Salada Mista"; mas era diferente, sem sentimento. Parte de um processo da descoberta da sexualidade sadia.

Meu primeiro beijo mesmo foi aos sete anos. O menino era uma graça. Não era o meu melhor amigo, mas era um garoto que estava sempre por ali, nas rodas dos amigos. Não foi um beijo apenas, foram vários até a vizinha fofoqueira contar para o meu pai. De que adiantou? Deixamos de beijar em público e fomos nos beijar no escuro da escada. Até eu achar que aquilo já estava monótono demais. Bye boy.

Demorei um pouco para dar um beijo apaixonado {digo: entre esse primeiro infantilóide para o primeiro apaixonadinho}. Eu tinha 14 anos e ele também. Estávamos lá na tal Casa de Pedra. Era pós almoço e todo mundo estava deitado nas camas beliche conversando e descansando. Ele estava na de cima e desceu. Deitou-se do meu lado e me beijou com atitude. Assim, sem dizer palavras desnecessárias. Claro que lembro desse beijo: molhado, estranho, nervoso, mas com um bom rendimento.

Engraçado... Lembro de todos os primeiros beijos com os caras que eu quis beijar: T, Dé, N, M, L, L, JL. Beijo desejado tem relevância e deixa a sua marca especial. O outros são vento que aparecem para refrescar o dia...

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* Na Casa de Pedra eu:
Ficava torrada de sol / pescava siri e caranguejo para comer no jantar / andava duas ruas enormes para pegar água da fonte e colocar no filtro de barro / subia em árvore / nadava em rio / pulava de uma pedra gigante dentro do mar / fiz boneco de argila / participei de grandes momentos noturnos em volta da fogueira / vendi picolé para afastar o tédio / jogava carta e alguns outros poucos jogos / dormi dentro de casa em barraca, porque o teto estava com goteira / comia goiaba do pé / peguei catapora e passei para um monte de outras crianças / dormi no banheiro / dormi na cozinha / andava de bicicleta livremente pelas ruas sem asfalto / brinquei de escola nas férias / soltava pipa / andava à beira-mar catando conchas / Fui Feliz.

4 comentários:

Ana Martins disse...

Bibi, tem uma casa de pedra que amo muuuuuito... a casa que meu bisavô construiu, lá na região do Porto.
Foi lá que mamãe nasceu. O dia que entrei lá, beijei e acariciei porta, janelas, fechadura...
para mim foi o mesmo que acariciar as histórias daquela casa, dessa minha amada família.

Bibi disse...

Ana, tantas similaridades! Que coisa gostosa!

Saulo disse...

Que casa de pedra era essa?? Eu participei desses momentos de lascívia infantil?! Não lembro... devia ser muito pequeno! rsrsrs
Cheguei a pensar naquela casa de Muriqui, mas acho que não... sei lá! Bjusss

Bibi disse...

Eu não lembro de vc lá...