6.6.09
Olhos que lambem
A Elma fez um texto muito bonito sobre o “Raj nosso de cada dia”. Ela começa dizendo que “todas as noites, ele {O Raj vivido lindamente pelo ator Rodrigo Lombardi} entra pela nossa sala, perturbando nosso sossego”. E percebo que tem sido assim desde o começo de Caminho das Índias. Rodrigo olha a câmera e é como se fizesse um raio-x no coração ideológico das moças que estão em casa – debruçadas em frente a seus aparelhos de TV. Esse texto me fez refletir sobre o poder do olhar. E quanto poder há nesse simples gesto. Não acha?
Quando os bebês nascem eles comem, dormem, choram e olham tudo. Gosto de observar aqueles dois faróis que rastreiam o mundo com muita curiosidade e se encantam ternamente frente às menores descobertas. Por exemplo? Quem nunca deu risada ao perceber que um bebê “encontrou” a sua mão ou o seu pé? Eles olham admirados e querem tocar, pegar as suas novas ferramentas. É muito fofa a cena. A gente vai crescendo e vai aprendendo a reconhecer as coisas com menos instinto e mais racionalidade. Na adolescência as diferenças se acentuam, fase em que também vivemos as primeiras grandes decepções amorosas. O medo passa a ser o do conhecido e não mais daquilo que se desconhece. E assim a gente vai perdendo aquele brilho nos olhos de quando o mundo é um grande parque a ser explorado. Ele passa a ser perigoso. Também acredito que é justamente nessa fase que o olhar de conquista começa a ser desenvolvido, um olhar de desejo; que vai além daquela visão do querer anterior.
É muito provável que, em situações normais {de temperatura e pressão}, esse olhar de desejo caminhe conosco durante toda a vida. Mesmo que no final dela ele possa não estar funcionando em sua totalidade. Mas se há saúde mental, lá estará esse voluptuoso jeito de enxergar. Gosto do olhar “desejante”, muito mais que do olha lascivo – que também tem o seu lugar. Desenvolvemos suas características e potencialidades ao longo da vida. Basta termos uma dose de ousadia e auto-conhecimento. E que arma poderosa essa pode ser. Anotem!
Existem homens que te despem com o olhar, que “lambem com os olhos o rosto de sua mulher”, como a Elma descreve a ação de Raj. Acho incrivelmente interessante a questão do olhar nas leis da atração. Ele, sendo a janela da alma, quando bem percebido pode falar mais que palavras ditas ou escritas. Porque o corpo fala e a linguagem corporal quase nunca consegue mentir. Talvez seja a nossa parte mais animalesca, mais instintiva.
Também há mulheres com um olhar poderoso. Elas são claras em suas intenções: bravas quando querem; lânguidas, quando desejam; dengosas, quando pedem por proteção; atrevidas. Mulher tem um olho que tudo vê e que tudo diz. Ela traz a sensibilidade na pele e a porta-voz dessa característica única é a expressão encontrada em seus olhos, que se derramam. Acho poderosa a mulher que consegue sustentar o seu olhar. Altiva!
Tenho o olhar curioso. Gosto dos olhos de lince, com os quais já me descreveram. Sou atenta, mas muitas vezes desligada {fazer o que?}. Tenho que estar muito focada para entender uma linguagem não-verbal. Mas gosto de conversar olho no olho. Sem rodeios e com muita verdade. Se desvio o olhar é porque estou tímida ou não me sinto confortável com os sentimentos que tenho em relação àquela pessoa. E isso nem sempre pode significar uma coisa ruim. As duas faces dessa moeda são válidas.
Todo ser em desenvolvimento precisa de um olhar de aprovação e cuidado. Muito mais que o tal tapinha nas costas. Todo mundo devia ser mais cauteloso com o seu olhar, porque é por ele que começa todo o julgamento que fazemos das coisas, pessoas e situações. Nem sempre somos os mais justos. E com o mesmo peso que avaliamos os outros, seremos nós avaliados um dia. Por isso, tento sempre ver o lado positivo das coisas e das pessoas. Obviamente quando ele existe, não sou boba. Não devemos ser tolos em relação à atitude e aos sentimentos dos outros. Mas a nossa responsabilidade é começar por nós, vigiar os nossos próprios sentimentos, que começam – também – através do olhar que lançamos.
Sou encantada pelo olhar apaixonado. Às vezes pego o meu Pai com esse olhazinho de “fumaça” para a minha Mãe, mesmo depois de 46 anos de casados. Com muitos sobressaltos, claro. Todos, creio eu, parte de um processo de sedimentação e solidificação. Fiquei extremamente lisonjeada todas as vezes que esse tipo de carinho recebi. Tanto daqueles com que tive alguma coisa; quanto daqueles que se mostravam apenas encantados. Eu já lancei várias dessas setas encantadas. “Se apaixonar é inevitável”. Receber aquela olhada gulosa também. Quando não se trata de algo inconveniente. Afinal, dizem, olhar não tira pedaço. Ufa!
Não me privo do olhar apaixonadinho, daquele que diz te quero, do que mostra que não gostei de certa atitude, do que desaprova e do que chama para junto. Olho mesmo e treino a cada dia mais as janelas da minha alma, para que ela seja portão das melhores coisas a se levar para dentro do meu ser.
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