20.6.09

LETRAS & RIMAS

COMEÇEI UMA NOVA SÉRIE.

ATENÇÃO: ESSA É A PARTE DOIS.

LEIA PRIMEIRO O TEXTO DO POST ABAIXO.

HISTÓRIAS DE BIA AMORIM, VERSOS DE JOSÉ LUIS LACERDA.

COM VOCÊS: LETRAS & RIMAS...

No dia seguinte, o frio parecia ainda maior. Uma chuva fininha e cortante castigava a pele de quem tinha que estar na rua àquela hora. Capas e guarda-chuvas pareciam inúteis diante do vento. E lá estava ela: a cafeteria. Um chá quentinho àquela hora era tudo o que Juliana precisava.


Molhada do chuvisco e com o guarda-chuva pingando, ela entrou voluntariosamente na cafeteria. Olhando para o chão, deixou a sombrinha na lata que ficava estrategicamente na lateral da casa e lentamente ergueu os olhos até o balcão. Estava em busca de algo quente para beber. Deu de cara com Gustavo Autran, o seu querido poeta, que já estava sentado na mesma cadeira do dia anterior. Juliana respirou fundo para tentar conter certo desconforto, causado por um instantâneo nervosismo que resolveu dominar o seu corpo. Ele estava incrível. Um sobretudo escuro que o protegia da chuva ocupava a cadeira a seu lado. Usava outra vez uma camisa de botão, mas por cima dela trajava um blazer de lã, que parecia confortável e propício ao dia frio. Fechou os olhos ao se imaginar protegida por aquele abraço quente. Seus lábios estavam gelados, assim como suas mãos.


Depois de se livrar do casacão que a protegia da chuva, Juliana se encaminhou para a mesma mesa que houvera sentado no dia anterior: estava ocupada. Sua hesitação foi clara. O corpo falava o que os olhos tentavam esconder apontados para baixo. “Que sensação mais esquisita? Por que estou me comportando dessa forma?”, pensou no momento imediato em que, intempestivamente, decidiu se dirigir até o balcão e acabar com aquele faniquito. Ela havia entrado ali para tomar uma bebida quente e ia cumprir a sua missão. De quebra, deixar claro que a ousadia daquele quase estranho no dia anterior não a tinha impressionado o suficiente.


A cafeteria estava cheia. Culpa da chuva e do frio. Juliana se aproximou do balcão e Gustavo abriu o espaço do casaco para que a moça pudesse sentar. Ela não sorriu. Apenas deu uma leve meneada na cabeça, mostrando gratidão. “Um chá de mação com canela, por favor?”, pediu à funcionária, que se mostrava extremamente desorientada com tantos pedidos. “Dois!”, acrescentou ele. Juliana não o fitou, mas seguiu o movimento de suas mãos e pensou em como pareciam finas e macias, mãos de escritor. Foi quando se lembrou que trazia os cabelos presos por uma caneta - "Ui, mania horrível" - e os soltou displicentemente, deixando-os cair levemente úmidos por seus ombros.


Depois de pedir o chá, Gustavo passou a olhar a menina do verso ao seu lado. Se por um lado ela mostrava a confiança das mulheres impetuosas; por outro, conservava o jeitinho tímido de menina que ainda precisa de proteção. Estava encantado. “Quem é ela? O que faz da vida? Principalmente o que quer e espera da vida? Teria gostado da sua poesia? Teria apreciado a sua ousadia motivada por um encantamento incomum?”, pensou. Sorriu quando a viu balançar os cabelos, enquanto tirava uma caneta da cabeça. Mulheres e seus pequenos truques...


Tomou o último gole de café da xícara que havia pedido anteriormente e trouxe aquele mesmo caderninho do dia anterior para junto de seu corpo. Ignorou a presença de Juliana e de qualquer outra pessoa que estava à volta e pôs-se a escrever. Muito mais que a sua vida, essa era a sua mágica. Intrigada com o descaso, Juliana continuou a esperar a chegada de seu chá lançando olhares eventuais e furtivos. “Gostou?”, perguntou Gustavo sem tirar os olhos do papel. Como brigar com alguém que não faz contato visual? “Da poesia?...”. “Não!”, interrompeu ele, “Do livro?”. Levemente desconcertada, Juliana resolveu deixar a conversa rolar. Frente a um homem que domina as palavras, a imprevisibilidade é a temática de qualquer conversa. Era melhor relaxar e ver até onde poderia sustentar sua opinião. No fundo, ela sabia se tratar de um cara interessante. Já havia lido, pelo menos, dois livros de sua autoria. Um homem que se derrama em palavras é de uma sensibilidade desconcertante. Pra que duelar? E tinha uma boca... Os chás fumegantes chegaram .


- Ainda gosto.

- Ainda gosta?

- Ainda o leio.

- Eu também te leio.

- Hum?

- Ontem você parecia estar no fim do livro.

- Hoje termino.

- Imaginei que sim.

- Como assim?

- Imaginei que você teria terminado a leitura hoje.

- Interessante te ler.

- Trouxe outro livro. Toma, esse é para você.

- Não prec...


Ele tapou seus lábios com o indicador e não deixou que terminasse a frase. Dentro do livro, uma rosa marcava uma página em especial, onde estava escondido um bilhete e uma poesia. O bilhete era o telefone dele e um convite para jantar na noite seguinte. A poesia, feita na hora, falava do tal abraço quentinho que ela – mesmo que por segundos - sonhara em ganhar:


Meu abraço
É um manto
Que te guarda do frio
Que te dá conforto
Te causa arrepio
Te arde o corpo
E te abranda o cio
Meu abraço
É o espaço
Que preenche o teu vazio
É o pedaço claro
Do teu mundo sombrio
Meu abraço
É o quintal que te cerca
Nas tuas aventuras
É o sinal que mede
Tuas loucuras
Meu abraço
Te acalenta
Quando a noite desce
Te protege do sol
Quando o dia amanhece
Te traz calor em pleno inverno
E de tão terno
Chega a te fazer chorar
Meu abraço existe
Só pra te apertar


2 comentários:

Sah. disse...

Que história lindaa!

É verídica?!

Perfeita!

Por favor Bia, escreve mais! Continua esta série! Por favor! Adoreiiii!


e me conta... quero saber a fonte inspiradora!

Suspiro disse...

Amei!Li os dois direto...